Como eram os circos na Piracicaba do século 19

A arte do circo acompanha a lembrança de crianças e adultos há séculos. Palhaços, animais amestrados, a música, sempre integraram tais imagens. EmPiracicaba, os espetáculos circenses também se fizeram presentes de longa a data. E foram reconstituídos em publicação de Jair de Toledo Veiga, datada de 1975, no Jornal de Piracicaba, que busca reconstituir a história do circo no município
 …”Em 1891 esteve no Largo de São Benedito, o Circo Fluminense do artista Jorge de Carvalho, companhia eqüestre, ginástica, equilibrista, acrobrática, mimíca e bufa. Era uma função de gala, estrondosa e surpreendente, a benefício dos artistas: o simpático menino Januário e da
festejada artista Fátima Day Natha de Carvalho ( evidentemente, esposa e filho do empresário). No convite impresso estava escrito ser o espetáculo dedicado trinta ilustres cavalheiros da cidade, cujos nomes eram divulgados em destaque, objetivando, talvez, a cooperação financeira, dado destaque de cada um dos homenageados.
Do programa pode-se destacar como seria o espetáculo: 1) os cabritos sábios em seus difíceis equilíbrios e saltos; 2) a Rainha do Ar – a artista beneficiada executaria difíceis equilíbrios em seu aero-rolante; 3) os anéis impermeáveis ou os quadros gladiadores romanos – trabalho de força e agilidade pelos beneficiados Ribeiro e Carvalho; 4) o litel inglês – exercícios de forá e perigosas caídas, finalizando o moinho de cem voltas pelos beneficiados; 5) o excelso arrojo – trabalho de alta ginástica pelo menino; 6) a luta terrestre e o menino serpente em seus assombrosos trabalhos de contorção.
Em 1914, esteve na cidade o Circo de Jean François, famoso artista, cujos descendentes moram ainda em São Paulo, que percorrera a Argentina e o Uruguai, armando seu pavilhão na Rua Benjamin Constant, quando, por um descuido do responsável, saíram à rua os cães amestrados, principal atração do circo. O oficial da Prefeitura, no cumprimento do dever, recolheu os cachorrinhos ao curral do Conselho. Por mais que Jean argumentasse, não atendeu o fiscal os seus rogos para libertá-los. Como último recursos, Jean François dirigiu um choroso requerimento ao prefeito Barros Penteado, solicitando a soltura, pois se lhe fosse negado não haveria função e o fracasso da bilheteria seria indiscutível. Conseguiu, mas “devia pagar a multa no dia seguinte à noite do espetáculo….”
Para demonstrar, ainda, as dificuldades porque passavam essas primeiras companhias circenses, Toledo Veiga também recupera, no artigo, um documento lavrado em cartório, que expõe a questão: ….”saibam quantos esta escritura virem que no ano de NSJC de 1883, aos 19 de junho, nesta cidade de Piracicaba, em meu cartório, compareceram como devedor Luis Casali, artista, diretor da Companhia eqüestre, ginástica Casali, e como credor Antônio de Souza Correa, artista.
Por Luis Casali foi dito que se constitui devedor a Antônio Correa de 2:000$000 que dele antes deste ato recebeu por empréstimo, para lhe pagar onde o credor exigir, no prazo de três meses, vencendo juros de um e meio por cento ao mês, pagável mensalmente; para garantia dá em penhor o seu circo eqüestre com um toldo, um pano de roda, um lustre e acessórios, roupas e fardamento para os artistas, cordas e todos os acessórios; os cavalos amestrados Guarany, Capitão, Bibi, todos amestrados em liberdade e os cavalos de picadeiro, chamados Barqueiro, Brilhante e Gigante, constando da escritura condições previstas por morte dos cavalos ou a alienação pelo devedor em poder do qual ficam ditos animais, devendo serem repostos os cavalos que faltarem, por outros amestrados”.

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