Criar canários é ouvir música dos céus

O texto abaixo foi publicado em abril de 1988 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

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Imagine mais de 600 canários cantando juntos, suavemente, como uma verdadeira orquestra afinada. Gostou? Pois este show tem um patrocinador apaixonado: Antonio Rodrigues Gomes Perianes, 52, que há 30 anos dedica-se ao hobby que herdou de seu pai quando ainda era jovem: criar canários. O palco desse espetáculo, resultado de muita perseverança, é uma chácara que fica a poucos minutos do centro da cidade. No criadouro de Antonio Perianes, Vigão, centenas de cores se harmonizam, bailando de um lado a outro das gaiolas.

Criar canários, na verdade, não é nada fácil. Além de gostar muito, é preciso conhecer as técnicas e macetes da criação. Os pássaros precisam ser bem tratados, bem cuidados, bem amados. Não adianta pegar uma gaiola e colocá-la no banheiro, com um casal de canários dentro. Longe do sol, das pessoas, certamente, eles vão entristecer e morrer. “Até as plantas conversam com quem as cria. Imagine o pássaro” — comenta. Na verdade, é preciso uma certa afinidade entre o criador e o pássaro.

Antonio Perianes tem hoje cerca de 50 variedades de cores, mas existem por aí mais de 200, que vão desde o branco, passando pelo amarelo, verde, azul, até chegar ao preto, que os criadores estão tentando conseguir com cruzamentos. Os preços variam de mil a 12 mil cruzados, e um casal pode resultar em quatro a cinco filhotes, ou em 10, ou em nenhum. Daí, a necessidade de persistência por parte do criador.

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As várias fases 

Os canários gostam de ambiente ventilado e sol da manhã, segundo Antonio. O ideal é alimentá-los duas vezes ao dia com ração. Atualmente eles estão se preparando para criar. As fêmeas procuram seus ninhos, estão se aprontando, como se fosse para uma lua de mel. Mas antes de chegar a esta fase, passam por várias situações.

Em janeiro, por exemplo, eles ficam com febre e perdem a pena. Quase não cantam e ficam tristes, amuados. “Entrar no criadouro, nesta época, é como entrar num hospital. Eles ficam doentes” — fala Antonio. É tempo de intensificar a alimentação dos pássaros.

No mês seguinte, a febre continua, mas já é notada uma pequena melhora que se intensifica em março, quando começam dar indícios de recuperação. Inicia-se, então, a formação da plumagem. Mas é em abril que começam a se preparar para a exposição de canários que acontece em julho; tomam banho, vão de um lado a outro, cantam… O criador observa se não têm manchas nas penas, o bico, as unhas. “Para a exposição não podem apresentar manchas ou falhas nas unhas”.

Em maio, os canários cantam, fogosos. É feita, então, a distribuição do macho e da fêmea. O macho canta; a fêmea chama, responde para criar. E como um flerte… em junho é o auge: tomam banho, penteiam-se (ajeitam o topete) e no mês seguinte acontece o campeonato brasileiro. Os campeões, obrigatoriamente, participam do campeonato mundial — hemisfério sul.

E no, mês seguinte, em agosto, tem início o acasalamento que vai até dezembro, período que mais empolga o criador, já que acontece o nascimento dos filhotes. Mas até chegar a este ponto, os canários exigem dedicação e trabalho de seu criador.

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Doenças 

Antonio mantém uma senhora para cuidar de seu criadouro, a dona Ana, que há nove anos trata dos mais de 600 canários. “Eu já me acostumei com eles” – diz. Antonio, todos os finais de semana, examina um por um e separa os doentes para o tratamento: geralmente, eles apresentam problemas respiratórios, de fígado ou diarreia.

Quando eles estão com problemas de fígado percebe-se pelos sintomas apresentados: ficam tristes e com a barriga preta. O tratamento, neste caso, é à base de miolo de pão umedecido no leite e um pouco de epocler. Um outro ponto que ele olha com atenção é a picada de insetos. Os canários são sensíveis. “Quando o pernilongo pica, e o canário coça, se não tomar cuidado, infecciona, daí tem que amputar a perninha” explica. Para aqueles que estão pendurados no poleiro, quase tombando (sinal de fraqueza), uma pequena dose de vitamina B12 dá bons resultados.

Segundo seo Antonio, toda a semana é necessário limpar as gaiolas. “É preciso fazer uma verdadeira faxina, porque eles são muito atacados por ácaros” — comenta. Ele reserva o sábado e domingo para cuidar dos canários.

“Para mim isso é uma terapia” diz, ao explicar que, enquanto muita gente conta carneirinhos para dormir, ele, quando está com insônia, vai até o criadouro fazer o acasalamento dos canários. “É um alivio à tensão”.

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