De rua da Praia a rua do Porto, a fragmentação

O texto abaixo foi publicado em dezembro de 1987 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

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Rua do Porto em 1940 – a partir do Largo dos Pescadores. Foto de Idálio Filetti

Antes era Rua da Praia. Depois, Rua do Porto. Foi fragmentando-se, diluindo-se.

Em 1931, foi derrubada a olaria, à esquina da rua XV de Novembro. Em 1935, a Alfândega caiu com um temporal. Ficava ao lado da falsa “Casa do Povoador”, na subida de sua ladeira.

Em 1937, o “CRP” demoliu o seu barracão, que era o estaleiro dos barcos, a secretaria, o vestiário masculino e feminino e havia, ainda, o setor de argolas, cordas e algumas peças para ginástica sueca.

Francisco Duarte Novaes (Chico Manduca) plantara e cuidara de uma muda, que é, hoje a enorme árvore no “Largo dos Pescadores”, agora, “Largo do Samba”!

Ele recebeu-a de Fúlvio Morganti e ali plantou-a há mais de 50 anos.

“Chico Manduca” morara na esquina, onde há o barzinho. Morreu com 93 anos e com uma lucidez de “flash”. Ouviu de seu pai o velho “Manducão”, que este construíra a suposta “Casa do Povoador”, entre 1850-1860.

A casa de “Maria Pituça”, mãe de Esmeralda Moreira; a de “João Pica-Pau”; a de Antônio  Pense; a de “João Negrinho”; a Olaria Pecorari; a Olaria de Elias Cecílio, foram demolidas. Some-se, ainda, a em que residiu o “Tôni Fumeta”, que era propriedade de meu avô paterno.

A venda que foi de Emílio Fabris conserva algumas características autênticas e puras.

Em frente à curva do “Almirante” havia as dos Duarte Novaes – os “Bico Fino” – que constam na Memória, de 1767.

O Antenor Salvagni –  O “Tangará” –  possuía a sua casa, onde, atualmente a Avenida quebra à esquerda, atrás da Loja Maçônica.

Muitos pescadores tinham as suas casinholas próprias, ou então, alugavam-nas. Assim, João Borges de Oliveira (Cel. Borges), Lingard Müller, Augusto Marquardt (Godí), Jacques Cotrim Dias, Antônio Sampaio Mattos, José Perches, Mário Lordello, “Mózinho” (cirurgião dental), Antônio Diehl, Eulálio Pinto César (Lalito), Heitor Pinto César, Antônio Cêra Sobrinho, Pedro Sansígolo, Pedro Chiarini e outros.

Nelas deixavam os trens de pesca: os motores “Tip-Top”, “Johnson”, depois, “Evinrude”, de 2, 4, 6 e até 10 cavalos-força; as varas para a pesca de rodada; espinhéis, pindacuemas, redes de malhas miúdas para as iscas, de malhas médias, tarrafas, tarrafões já proibidos pelo Código de Caça e Pesca, que se não me engano é de 1933!

A “Olaria do Nerhing”, é de 1908. Restou-lhe a chaminé, porque querem simbolizar a Rua do Porto.

É evidente que a mesma nunca será a memória da Rua. A Olaria acima corresponde à primeira intromissão da indústria cultural. Substituiu a prensa manual pela elétrica. Os barracões para a secagem dos tijolos, telhas paulistas e “paulistões” à sombra, foram substituídos pelos prédios, cujas paredes tinham ventilação.

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