Drogas em 1987: maconha perde para cocaína

O texto abaixo foi publicado em setembro de 1987 no semanário impresso A Província. Mostrava, mais uma vez, a preocupação com a questão das drogas na cidade. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

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Semanário A PROVÍNCIA, texto de 1987

 

Se é injusto chamar Piracicaba de “Amsterdã brasileira”, também é ingênuo se esquecer que o consumo de drogas, principalmente entre a juventude, ainda preocupa. Segundo dados da Polícia, no ano passado foram aprendidos, por flagrantes de porte e tráfico, 197 quilos de maconha e 500 gramas de cocaína. Já nos primeiros sete meses deste ano, a quantidade de maconha apreendida diminuiu bastante, para  10 quilos e 300 gramas. Mas, em contrapartida, aumentou consideravelmente a de cocaína, num total de 1200 gramas apenas entre janeiro e julho.

Este problema há algum tempo vem merecendo a atenção e o trabalho de várias entidades que procuram prevenir o vício ou oferecer condições de recuperação para os que já se viciaram.

Orientação aos menores de rua 

Entendendo que o consumo de  drogas muitas vezes começa ainda na infância e frequentemente associado ao abandono social e familiar, o Oratório São Mário, dirigido pelo padre Dilermando, desenvolve desde 1984 um trabalho com menores de rua. Segundo a assistente social Maria Helena Canto, a base da atuação do Oratório é “amor, amizade e carinho”, procurando oferecer uma assistência psicológica e social que lhes é negada pela família.

Um dos objetivos da instituição é evitar e prevenir o consumo de drogas pelos menores. Algumas crianças já chegam até eles, como diz Maria Helena, “com vícios de cheirar cola, esmalte, benzina e até mesmo fumar maconha”. E acrescenta. “A maioria se dopa para esquecer a fome”.

O desafio da recuperação 

Num outro nível, procurando recuperar jovens que já estão dependentes das drogas, trabalha o Desafio Jovem de Piracicaba. Segundo seus diretores, existem várias causas que atraem a juventude para os tóxicos, desde a simples curiosidade, até o desafio autoimposto pelos jovens de chegar à beira da insanidade, num jogo de sujeição da mente para testar a cabeça.

O Desafio Jovem aborda a questão do consumo de drogas pelos jovens sem esquecer que eles tão inseridos numa sociedade e seus conflitos, que são mais dificilmente resolvidos por quem ainda não tem uma personalidade definida. Assim, outras causas apontadas são a atitude insultuosa que o jovem toma diante de uma sociedade cheia de falhas e a fuga frente a situações embaraçosas existentes na família.

As influências das turmas e a necessidade de se sentir aceito por um grupo também não são esquecidas, assim como as decepções amorosas, o medo de se considerar covarde diante do novo e a tentação que representa o que é considerado proibido e ilegal.

O Desafio Jovem também divulga várias informações sobre os efeitos que o consumo de drogas causa os jovens. Segundo o Desafio, a cocaína provoca perda drástica de peso, fossas nasais avermelhadas, coriza constante e o uso de mangas compridas para esconder as picadas nas veias, efeitos que são similares aos provocados pela heroína. As anfetaminas provocam mãos trêmulas, transpiração contínua acompanhada de odor desagradável, lábios ressecados e o hábito constante umedecê-los com a língua.

Ainda segundo o Desafio Jovem, o consumidor de barbitúricos tem aparência desnorteada, olhar distante e flutuante nas órbitas e o jovem que utiliza LSD e outros ácidos está frequentemente de óculos escuros, ainda que em ocasiões não apropriadas.

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