Futebol piracicabano: vai acabar a fuga de craques?

O texto abaixo foi publicado em agosto de 1987 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

 

 

André Cruz, vigoroso zagueiro que acabou jogando nas duas laterais da Seleção Brasileira, medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos, é piracicabano. O ponteiro direito Tato, campeão paulista de 1986 pela Internacional de Limeira, cujo passe está sendo negociado por 20 milhões de cruzados, é piracicabano.

O que é que eles possuem em comum, além do fato de serem de Piracicaba?

É que, sendo craques de primeira plana do futebol brasileiro, ambos não foram revelados pelo futebol piracicabano. O Tato e o André Cruz normalmente deveriam ter sido lançados como astros do futebol profissional envergando a camisa alvinegra do XV de Piracicaba. No entanto, André Cruz pertence à Ponte Preta, de Campinas, na mesma equipe onde joga outro piracicabano, o atacante Wagner. Na mesma cidade onde joga, no Guarani, o central Alexandre, também piracicabano, convocado para a Seleção Brasileira de Juniores.

A relação de atletas piracicabanos que, ainda na condição de juvenis, deixam a nossa cidade para tentar melhor sorte em Campinas, Santos e na capital, ao longo dos anos, é enorme. Sem passar pelo XV de Novembro.

Uma lista que pode começar com Antônio Julião, que jogou no Palmeiras da Cidade Alta e no Atlético da Vila Rezende, dali saindo para tornar-se campeão paulista pelo Corinthians.

Lista que inclui dois campeões mundiais. O Mazola, que saiu do Clube Atlético Piracicabano para a equipe juvenil da Sociedade Esportiva Palmeiras, de São Paulo. O Coutinho, que foi também juvenil para o Santos Futebol Clube para depois formar a dupla mais famosa do futebol brasileiro, com Pelé.

Isso, para citar só os mais importantes e famosos. Há dezenas de outros. Como o arqueiro Tobias, que foi titular do arco do Corinthians. E o goleiro Nilton, reserva do uruguaio Rodolfo Rodriguez, no Santos F.C.

Criou fama, deita na cama 

Neste caso, o ditado popular funciona no sentido inverso ao interesse do futebol piracicabano. Porque a fama do XV é a de não reconhecer, não dar chances e não valorizar os jovens futebolistas piracicabanos.

Se alguém quiser ter alguma chance, o caminho mais próximo é Campinas, as equipes inferiores de Guarani e Ponte Preta. Outras opções são o Santos F.C., Corinthians, Palmeiras…

“Nós contra nós”

Para que se tenha uma ideia dessa situação, há algumas semanas tivemos duas partidas de equipes infantis e juvenis, no Estádio Barão de Serra Negra. Adversários: XV de Piracicaba e Guarani, de Campinas. Resultado: vitórias do Guarani, no infantil, por 4xl, no juvenil por 3×0.

Depois, o técnico piracicabano Neno comentava: “Foi um jogo de nós contra nós mesmos. Os melhores jogadores do Guarani, quatro do infantil e cinco do juvenil, são de Piracicaba”.

Nesse mesmo dia, no intervalo das partidas, um esportista piracicabano, acompanhado de três garotos, foi procurar os dirigentes do Guarani, propondo a realização de um teste com os mesmos.

Mudança de mentalidade 

É uma missão quase impossível mudar em alguns meses ou anos a imagem negativa que se formou marcadamente através de quatro décadas. Contudo, louve-se o esforço que está sendo realizado atualmente no E. C. XV de Novembro.

Pela primeira vez na história, está se desenvolvendo um trabalho de base. A Divisão das Equipes Menores, do XV, com o esportista Carlos Alberto Totti como diretor, mantém em atividade as equipes Fraldinha, Dentinho, Dente de Leite, Infantil, Juvenil e Juniores. As três primeiras, sob a responsabilidade do técnico Neto. Infantil e Juvenil dirigidas pelo preparador Neno e Juniores pelo técnico Muri.

Também pela primeira vez na história, equipes disputando o Campeonato Paulista das categorias Infantil, Juvenil e de Juniores. O Dente de Leite começa a sua participação no Estadual, em setembro.

Peneiras 

Os treinamentos de todas essas equipes se fazem praticamente a semana inteira, nos gramados “Barão”, da Agronomia e do Tiro de Guerra. Os testes para os garotos interessados estão abertos permanentemente.

Basta comparecer àqueles locais, nos dias e horários dos treinos, para ter a chance de se submeter à peneira, podendo vir a integrar-se às equipes.