Legardeth: “temos um milhão de remédios. Este país é uma vergonha!”

O texto abaixo foi publicado em outubro de 1987 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

21 06 18 18 23 Office Lens

Não existem dúvidas: um dos grandes males da saúde do Brasil é a grande quantidade de remédios que toma conta das prateleiras nas farmácias, e que acaba estimulando o consumo indiscriminado. Expostos nas prateleiras de muitas farmácias estão supositórios, cremes, pomadas, gotas, comprimidos que somam hoje cerca de 17 mil itens.

“Temos aí milhões de remédios. Este país é uma vergonha” — disse o médico do Centro de Saúde, Legardeth Consolmagno, observando que muitos medicamentos são os mesmos, apenas se diferenciam no nome. “A maioria dos remédios para gripe é assim. Eles mudam apenas a dosagem e o nome”.

A venda de remédios sem receita médica é vista pelo médico como uma coisa séria. Segundo ele, teoricamente os remédios que contém tarja vermelha só devem ser vendidos com receita, mas alguns deles não são obrigatórios. Legardeth mostra uma lista dos remédios que somente são vendidos com receituários.

A bula, como afirma, não é feita para as pessoas (bem que desconfie). “Não deveria existir. A bula é uma burla. E uma maneira de ensinar a população a tomar remédios sem necessidade” — afirma.

Da mesma opinião, o vereador João Sahs, proprietário da Farmácia Droga XV, diz que a “bula cria o direito do paciente se automedicar. No Brasil todo mundo entende um pouco de medicina. O consumo de drogas é muito grande”, ironiza. Ele diz que muitas pessoas olham na bula e acabam deixando de tomar o remédio que o médico receita. “Quem pode afirmar que a bula está certa? — pergunta.

Segundo o vereador, aqui em Piracicaba, a implantação do Plano de Saúde Municipal provocou uma queda de 70 por cento na “curandeiragem” nas farmácias. “Antes formava fila aqui, hoje não existe mais”, afirma. “A empurroterapia diminuiu muito com a abertura dos Postos. As farmácias vendiam muito aqui em Piracicaba. Agora as vendas caíram consideravelmente”.

Cartilha do Consumidor 

Na Cartilha do Consumidor lançada pelo Centro de Defesa do Consumidor — Cedecon, em 1985, estão as recomendações para as pessoas, orientando-as a sempre procurarem um médico. (Na cidade são 19 Postos de Saúde Municipais).

Segundo item VI da Cartilha, a primeira coisa a fazer é tomar somente remédio indicado pelo médico na hora e quantidade certas. São dez os itens:

01-  Verifique se o remédio é o que está indicado na receita. Leia atentamente a bula, em caso de dúvida quanto ao preço do remédio, exija a tabela de preço da farmácia (Guia Farmacêutico Brasindice); verifique o prazo de validade do remédio.

Para quando a pessoa for fazer consultas médicas procure saber antecipadamente o seguinte:

Qual o preço da consulta; qual o preço do tratamento; verifique qual o órgão de preferência que facilitaria e ficaria mais em conta; você não é sócio de alguma entidade ou tem algum seguro que cobre os custos; Não ficaria mais barato tirar fichas para consultas em um órgão e ficha de exames em outro sendo você o sócio dos dois?; Tem que pagar diferença na consulta ou exame? Quanto?; Exija recibos do médico e da diferença paga; em caso de acidente, o seguro obrigatório do veículo cobre parte dos danos pessoais causados pelo veiculo ou sua carga, às pessoas transportadas ou não. A cobertura cobre danos pessoais causados aos proprietários e motoristas dos veículos,  seus beneficiários ou dependentes e despesas de assistência médica e suplementares.

Se o médico fizer exames apressados e superficiais, faça nova consulta. Guarde os exames e  receitas anteriores.

Deixe uma resposta