A luta para erguer a Catedral

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Dom Ernesto de Paula foi o primeiro bispo de Piracicaba, empossado em 1946. Logo após empossar-se, uma de suas primeiras iniciativas foi polêmica: a decisão pela demolição da antiga Catedral e a edificação de um novo templo no centro da cidade. Em seu livro “Reminiscências” ( Editora Loyola, 1979) em que relata 80 anos de sua vida, especialmente nos aspectos religiosos, D. Emesto gasta várias páginas para falar das dificuldades do empreendimento, do qual extraímos trechos:

” … recebida a aprovação do clero, decretei a demolição da velha matriz. Fiz publicar um edital pela imprensa a este respeito. Assim que saiu a publicação, começaram as lamúrias e mesmo os protestos de alguns, sobretudo dos piracicabanos residentes fora, quase todos na capital. Mas já não houve o que me demovesse da decisão tomada. A demolição não tinha sido iniciativa minha, e sim sugestão de quase todos os piracicabanos residentes na cidade …. Chamei um amigo arquiteto e lhe pedi que estudasse uma possível reforma na velha igreja, já tantas vezes reformada e deformada. O engenheiro passou um dia todo examinando a velha matriz e, ao regressar, me disse: ‘ só encontro uma reforma possível-:é a picareta. Absolutamente, não há o que fazer’ ….

 

…. dirigia-me a casa, a pé, pois não dispunha de condução. Ali mesmo, no Largo São Benedito, um menino correu atrás de mim, dando a entender que queria falar-me. Parei, e então aconteceu a maravilha. O menino, que pertencia a uma família de modestos recursos en¬tregou-me uma nota de dez mil réis, dizendo: ” papai mandou entregar isto ao Senhor, para a construção da nova catedral”. Confesso que aquele donativo me comoveu e, ao mesmo tempo, deu-me a certeza de que a campanha, ou antes, a batalha para construção da casa de Deus estava ganha”

 

… a diocese não dispunha de recursos materiais. Um bom amigo, Pedro Habechian, emprestou-me dois contos e quinhentos para que eu pudesse saldar as despesas do armazém onde se comprou o necessário para a alimentação de um mês … a residência episcopal estava modestamente mobiliada, mas os móveis não haviam sido pagos. Não contando eu com recurso algum, fiquei em dificuldades para pagar a mobília e, assim sendo, tive de devolvê-Ia.

 

…. além dos pequenos donativos que iam chegando, havia pessoas que contribuíam mensalmente …. Vendo a desproporção entre as entradas e a extensão do plano que eu tinha em mente, pensei em organizar uma quermesse que me fornecesse uma quantia maior, para dar início às obras da nova Catedral. … Na noite de inauguração da quermesse o que presenciei foi o enorme concurso do povo e o entusiasmo com que percorriam as barracas em busca de lanches, prendas … De fato, a quermesse funcionou doze noites (na praça da catedral, feericamente iluminada), aos sábados e domingos e o resultado foi surpreendente: quinhentos contos de réis! Este numerário deu maior incremento às obras e, daí em diante, por meio de listas, quermesses e contribuições mensais, conseguimos, com a graça de Deus e a genero dos bons piracicabanos, levarmo a construção da nova catedral

… tínhamos iniciado as obras 1946 e, em 1950, precisamente no jubileu de Monsenhor Rosa, foi-nos dado inaugurar o novo templo. Não estava, é verdade, totalmente terminado, mas a capela-mor, o altar e o piso – todo de mármore, ficaram perfeitamente concluídos. Faltava, é claro, parte das torres, poré assim mesmo, a nova catedral se apresentou em toda a majestade e o povo foi unânime em me felicitar. …

…. para a solenidade da inauguração, por ocasião do jubileu de Mons. Rosa, compareceram vários srs bispos: D.Paulo de Tarso Campos, bispo de Campinas; D . Carlos Aguirre, bispo de Sororocaba; D. Francisco Borja do Amaral, bispo de Taubaté; D. Paulo Pedrosa, abade do Mosteiro de São Bento ,em São Paulo. Vários sacerdotes de Piracicaba e Campinas estiveram também presentes, assim como grande número de fiéis …. “

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