Marcha da Família em Piracicaba

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Quando, em 1964, o país se agitava ante a eminência do golpe, envolvido nos conflitos do final do governo de Jango, também Piracicaba promoveu, à semelhança de São Paulo, sua Marcha da Família com Deus e pela Liberdade, lutando contra a ameaça comunista que seus organizadores denunciavam.

Para a manifestação na capital, que ocorreu no dia 19 de março, qualificada como ” uma demonstração de civismo” que envolveu mais de 500 mil pessoas, a Prefeitura já colocara ônibus gratuitos para aqueles que quisessem atender ao convite do Movimento de Arregimentação Feminina ( MAF) . E, no dia 29, aparece, nos jornais locais, o primeiro registro da tentativa de realização de manifestação semelhante, que recebeu o apoio do prefeito Luciano Guidotti “desde que não tenha cunho político ou partidário”.

Mas no dia 4 abril – e portanto já após o Golpe Militar – o MAF admite que ” dada a precipitação dos acontecimentos políticos”, outras reuniões preparatórias para o movimento deveriam se realizar. A Marcha acontece finalmente no dia 9 de abril, descrita como envolvendo “uma multidão incalculável que tomou a Praça José Bonifácio, em movimento popular nunca visto em Piracicaba”. A concentração dos participantes ocorreu na Estação da Paulista, seguindo pelas principais ruas até a Praça central, ao repique dos sinos da Catedral e aviões do Aeroclube sobrevoando a área e derramando papel picado. As aulas foram suspensas e a presença dos estudantes foi intensa, o comércio e a indústria suspenderam suas atividades, houve participação da cavalaria em trajes de gala.

O jornal “O Diário”, em sua edição de 10 de abril e então dirigido por Sebastião Ferraz, registrou alguns dos principais discursos. Para Carolina Ribeiro, professora paulistana e presidente do do MAF, ” quem aqui se reúne é a família desta heróica Piracicaba, apenas para testemunhar a glorificação da Pátria redimida sem uma gota de sangue”. Já o presidente da Câmara, Lázaro Sampaio, acrescentou que ” esta família se reúne para pedir a Deus a suprema graça da terra: a liberdade”. A manifestação de Monsenhor Nardin, falando pela Igreja Católica, não destooou: ” Liberdade não é o direito de fazer o que se quer, massim o que se deve”.

As palavras que, à distância., parecem as mais radicais foram proferidas pelo vice-prefeito Nélio de Arruda Ferraz: “se não fora a extraordinária atitude desse nosso valoroso Exército, nós hoje estaríamos vivendo o reverso da medalha. Talvez nesta belíssima Catedral, nós estivéssemos vendo um paredón”, referindo-se, certamente, à possibilidade de que, em sua visão, com os comunistas no poder, não se poupasse sequer o espaço religioso para que as perseguições não se consumassem.

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