Na Agronomia, a negadinha anda pra mais de metro

O texto abaixo foi publicado em outubro de 1987 no semanário impresso A Província.

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São seis horas da manhã, o dia mal clareou, mas o campo principal da ESALQ já tem seu estacionamento repleto de automóveis. São executivos, profissionais liberais de meia que há alguns anos transformaram o local em centro da província para atividades esportivas. É a “turma da saúde” ou então a “turma da safena”, como diriam as más línguas. Todos têm o mesmo objetivo: o tempo pode passar, mas ele não deve deixar marcas profundas no físico. Então, suar é preciso!

Quando o dr. Cooper divulgou o seu famoso método, certamente descobriu um ovo de Colombo, mexendo não apenas com a vaidade de cada um, mas com a necessidade de se permanecer sempre produtivo, independente da idade. De lá pra cá, sua teoria chegou a ser questionada, através do alerta de que correr demais pode ser uma faca de dois gumes e que o melhor exercício é andar.

Mas a “turma da saúde” da província está sempre em dia com as novidades. Atualmente, a maioria não corre, mas anda pela ESALQ. E nem adianta perguntar a nenhum deles se não ficaria mais fácil deixar o carro em casa e ir a pé para o trabalho. A resposta vem na ponta da língua: dizem que andar a pé numa rua movimentada e sob efeitos da poluição não é bom pra saúde e, além disso, ninguém quer chegar suado ao trabalho.

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CONSELHOS MÉDICOS 

O comerciante Geraldo Casarotti, de 57 anos, é frequentador assíduo de todas as manhãs na ESALQ. “Venho de segunda à sexta-feira, e algumas vezes também nos finais de semana. Faço uma hora de exercícios, ando e também corro”. Mas Casarotti tem um bom motivo para isso: ele é safenado. “Fiz ponte de safena há cinco anos e meu médico recomendou os exercícios, além de cortar os dois maços de cigarro que fumava diariamente. Sempre tive um trabalho sedentário como comerciante e agora sinto que minha condição física melhorou muito, mas é bom não parar com os exercícios”.

O bancário aposentado e atualmente empresário Gelsio Diniz, de 62 anos, faz cooper diariamente há 8 anos. Tudo começou quando ele foi assaltado a mão armada e levou um tiro nas costas. “Foi uma experiência bastante difícil, fiquei 10 dias hospitalizado e 36 dias parado”. Isso causou um problema de enervação e, a conselho médico, Diniz passou a fazer exercícios. “Hoje eu já não tenho mais problemas, mas continuo vindo aqui, porque quando você acostuma não dá pra parar” .

UM HÁBITO 

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As corridinhas e marchas na ESALQ também viraram um hábito para o despachante José Ganhor, de 43 anos, e o professor da Faculdade de Odontologia Antonio Carlos Usberti, de 50 anos, que fazem exercícios juntos todas as manhãs. As segundas, quartas e sextas eles só andam e nos outros dias também correm. Ganhor começou fazendo a pedido de seu médico, “tenho um problema no coração, uma veia entupida e já estou sentindo uma melhora acentuada na minha disposição física, não sinto mais tanto cansaço”.

Já Usberti diz que nunca teve problemas de saúde. Para ele, o exercício na ESALQ é só uma complementação, pois diz que sempre praticou esportes para manter a condição física. Ele e Ganhor fazem uma média de quatro quilômetros por dia e, além disso, a noite são parceiros em jogos de tênis.

O hábito também é recente para Ysne Valvano, 57 anos, que caminha todos os dias acompanhado do genro Orlando Piacentini. Ele diz que “por enquanto não é por conselho médico”. Para Valvano, é uma substituição à sua atividade profissional. Na época em que era funcionário do Banco do Brasil, eu não precisava disso, só na agência eu andava vários quilômetros”. Como se aposentou no início do ano, teve a idéia como uma medida preventiva em relação aos problemas que a inatividade poderia causar à sua saúde.

CONVÍVIO SOCIAL 

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Pela grande frequência que tem, a pista da Agronomia acabou se transformando num ponto de encontro, onde se pode fazer novas amizades e aumentar o convívio social. Quem ressalta o fato é Katalin Zanello, que é funcionária da Vipitur. Ela diz que se exercita “há oito anos, mas não de maneira contínua, tem épocas que eu dou uma parada”. Ela anda apenas, porque acha menos cansativo, durante uma hora e acha que fica bem mais disposta para o trabalho. Katalin é húngara de nascimento, saiu da Hungria com nove anos, “por decisão de minha mãe, que não se acostumava com a vida dura do regime comunista, onde você não tem possibilidades de subir na vida”. Ela foi naturalizada norte-americana e agora, já está há 15 anos no Brasil. Katalin diz que o convívio com as pessoas que fazem exercícios na ESALQ também ajudou na sua adaptação à Piracicaba: “Saí de Budapeste, fui para os Estados Unidos e agora já estou acostumada à província”.

O Roberto Abdalla, agente imobiliário, e sua esposa Yara começaram há apenas duas semanas a frequentar o local. Dizem que “é uma experiência muito boa, nós andamos durante uma hora e ao mesmo tempo vamos colocando os nossos assuntos em dia”. Além de já começarem a perceber um efeito positivo na parte física, também notaram na parte social: “E um ambiente muito agradável, as pessoas são muito positivas, porque querem sempre estar em sua melhor forma, o que faz com que aqui seja um bom meio de convivência”.

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