O primeiro Engenho Central

O texto abaixo foi publicado em outubro de 1987 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

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Em 18 de novembro de 1881 chegavam a Piracicaba os primeiros volumes de maquinismos para o Engenho Central.

O funcionamento regular data de  1883, sob o comando geral de ESTEVÃO LUIZ DE SOUZA REZENDE (Dr.) — O barão de Rezende.

A sua capacidade anual era de 9.000 (nove mil) sacas de açúcar.

No fim do século XIX foi reaparelhado com maquinismos mais modernos.

Passa a pertencer à “Societé Anonyme Sucrérie de Piracicaba”, que anexou aos seus já existentes 850 alqueires de terras, a Fazenda Santa Rosa, de 585 alqueires, agrupando numa única organização 1.435 alqueires.

Segundo o “Almanak de Piracicaba Para o Ano de 1900”, de Prudente Silveira Mello, p. 273, o barão de Rezende adquiriu o Engenho Central, aos 03 (três) de outubro de 1888, conforme a averbação no Cartório de Registro de Imóveis, da 1ª Circunscrição, Piracicaba.

Em 1884, numa lista de 10 engenhos classificados pela Câmara Municipal de Piracicaba (já não era mais Vila Nova de Constituição), para efeitos de cobrança do Imposto sobre o açúcar, o Engenho Central produzira 30.000 arrobas e em 1887 chegara a 40.000.

Estranho é que a essa época (1884) o imposto municipal foi de 40 réis por arroba de café e de açúcar.

A partir desse ano a Câmara Municipal cobrou 20 réis por arroba de açúcar do Engenho Central e 40 réis por carro de 100 arrobas de cana dos fornecedores.

A Companhia do Engenho Central de Piracicaba, em 1882, elevou o seu capital para 1.200:000$000, ofereceu um pequeno resultado no ano agrícola de 1885-86, pois, em 117 dias de moagem, esmagou 13.144.774 kg. de cana, dando 893.790 quilos de açúcar. As resultantes de tal produção foram: 1 – falta de depósito para melado, que foi aplicado à destilaria; 2 – má qualidade das canas deterioradas pela seca e geada.

O Dr. Holder Jansen Kok residia na Vila Rezende. Possui um solar em uma quadra, defronte à Igreja da Imaculada Conceição. Era todo murado, cheia de plantas. Esta área foi desapropriada e transformaram-na no atual jardim.

O Dr. Kok construiu o antigo prédio do Grupo Escolar “Prof. José Romão” e as casas tipos dinamarquesas. Plantou inúmeras palmeiras imperiais à frente disso tudo.

Foi ele, também, quem construiu o “Externato São José” ,(1934), onde funcionou a “Odontologia”.

Juntamente com Manoel Lourenço “Manoel Lampião” é que ambos construíram o paredão de arrimo, que se vê, hoje. E todo de pedras curubas.

O Dr. Daniel Rinn já ao início da guerra de 1939-1945 não mais se encontrava na gerência. Tinha regressado com a esposa e o casal de filhos para França.

Foi o Dr. Jean Balbaud quem substituiu as velhas construções por novas. Fez os prédios: do escritório, da destilaria(que estava inacabado), da química, da esteira e usinagem, dos armazéns (depósitos) de sacarias, as chaminés etc.

Essas, numa foto de 1882, aparecem quadradas, mas apenas exteriormente, porque os seus interiores eram redondos.

À hora do almoço e do jantar alguns dos empregados pescavam de barranco: dourados, juripócas, jaús, pintados etc..

A entrada, antes do atual portal, os trabalhadores mandavam nas cestinhas as suas “fezinhas”. No dia seguinte recebiam com estas o dinheiro, no caso de terem acertado no “bicho” e nos tipos de jogos feitos.

Segundo o relatório do Presidente da Província de São Paulo (Barão de Parnaíba), o Engenho Central deveria produzir mais de 30 mil arrobas de açúcar.

A Lei número 2.687 beneficia, em 1888, a lavoura de cana, havendo uma produção de 77.000 arrobas de açúcar.

Há que se pensar na abertura da escravidão. O trabalho manual do negro ficaria escasso. Daí a presença daquele texto legislativo.

Notoriamente todos os engenhos de açúcar situavam-se no leste, isto é, no rio acima. A lavoura de café abriu-se num leque pelo município.

Espantei-me, também pois o açúcar não era transportado para a Estação Velha (agora E.E.P.G. “Dr. Alfredo Cardoso”), mas para a demolida Estação “Barão de Rezende” (Vila Rezende). Faltou uma conexão entre a linha férrea do Engenho Central com a E.F.Ituana, que é de 1874-1876, já que a primeira passava sobre a segunda. Houvesse a estação aqui, junto onde esteve, primeiramente, à cooperativa do Engenho Centrai ter-se-ia ao preço mais baixo das tarifas. Eram altas para a remessa do açúcar para a Capital, pela via dos trilhos.

Como o carro de bois era lento, entrou-se com eles da sede à lavoura, o que, contemporaneamente, é feito por tratores, que puxam as carretas, superando os próprios caminhões.

A navegação fluvial do Engenho Central trazia, rebocado pelos vapores, um cordão de chatas, de 20×6 m cada cheia de areia e lenha, quando o rio permitia o seu calado, partindo de Porto João Alfredo (Ártemis) até o  vai-vem.

Em 1887 a Companhia do Engenho Central de Piracicaba chegou a 60 mil arrobas.

O reconhecimento do rio Piracicaba fez-se em 1873, através do “Explorador” (vapor).

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