Pecente: o craque intelectual
A Província reproduz entrevista dada pelo jogador à Revista Mirante no ano de 1957. Confira:
Prelúdio sem máscaras
Pedro Vicente Fonseca é o seu nome. Pecente é uma aglutinação de sílabas. Este vicentino tem uma facilidade em fazer amigos.
Começaremos por dizer-lhes que o vemos datilografando sempre nos escritorios das «Oficinas Dedini». É um moço que não senta nos bancos dos jardins.
Em sua casa, onde moram outros gigantes do cestobol, ouve boleros, sambas, canções e músicas americanas. Não é capaz de sair mascarado no carnaval.
– Por que? perguntamos-lhe.
– É que a gente vive mascarado o ano inteiro.
Ele sem bola ao cesto
Pronto para treinar!
Encontramo-lo, à noite, nos filmes de Elisabeth Taylor e nos musicais.
Como tem 22 anos, completados no último 21de janeiro, salta dos bondes correndo, o que fará, é claro, enquanto não passar dos 40. Depois destes serão queda na certa e Santa Casa em continuação. Mas, aos 40, espera ter automóvel, aqui mesmo, porque gosta e sente bastante a nossa terra, onde encontrou ambiente muito bom e muita camaradagem também. E fãs às centenas. A maior mora ali na rua Benjamin Constant.
– Dança?
– «Quem não dança carrega criança».
No cestobol
O cestobolista Pecente é um resultado de brincadeiras. Entretanto, aos 14 anos disputava o 1º campeonato Juvenil Santista (1951). Em 1952 já campeão No time inicial encontrou-o o ano de 1953. No Santos fêz futebol juvenil (1954). E nada agora, pelo menos para brincar.
Buenos Aires, México e Colômbia conhecem-no e oferecem-lhe emoções fortes. A mais intensa aparece-lhe no final do Campe01l3to Pan-Americano. O Brasil jogava contra a Argentina, que, na noite anterior, vencera os americanos – uns tigres da cesta. Os brasileiros triunfaram por 1 ponto na prorrogação!!!
Joga atrás, armando. N esta posição fêz mais cestas num tornêio de Natal, que a «A Tribuna», de Santos, promovera. O seu quadro fêz 52 X 46. Foram seus 44 pontos. Mesmo na defesa faz faltas, que o mandam fora da quadra.
– Por que não foi a Melbourne?
– Não estava bem fisicamente. Ademais não me encontraria capacitado, para aguentar os treinos intensivos em S. Paulo.
– Enfrentaremos os americanos?
– Para vencê-Ios, em futuro próximo.
– Há evolução no cestoboI brasileiro?
– Observa-se uma fase evolutiva, sob a responsabilidade de geração nova, aparecida agora.
– Como veio a Piracicaba?
– Estava no Rio, preparando-me para o Campeonato Mundial! Surgiram
Armintos Raya, Mané e Kraide. Convidaram-me para vir a Piracicaba, para trabalhar e estudar Pecente não só joga – trabalha também.
– Que nos diz do XV, futebol?
– Tem um grande quadro. Faltam-lhe reservas à, altura, no plantel. Estes não resistem jogar tôdas as partidas.
Prelúdio e finale maestoso
São seus pais, Pedro Fonseca e senhora dona Maria de Lourdes Fonseca, que agora devem estar jubilosos, radiantes, empolgados com a sua opulenta atuação Luna Park, porque Piracicaba o está, como estão São Paulo e o Brasil.
Cursou o Grupo Escolar de São Viocente sem reprovações e o ginásio até a 3ª série, quando desistiu para trabalhar.
Traja sem dar preferências às cores. As suas borrachas são 42. Na maleta há Phillips. É um incorrigível flamulista. Passe-se pela rua Prudente. Há um mundo delas numa casa arrumadíssima, com quartos mobiliados com gosto invulgar.