Piracicaba, 1769: soldado caçava onça

No livro “Relatos Monçoeiros”, Afonso de Taunay faz referência a um álbum de desenhos feitos pelo navegador Teotônio José Juzarte que, a pedido do Morgado de Mateus, relatou a monção no curso dos rios Tietê, Paraná e Iguatemi. Os desenhos foram adquiridos, em 1960 , pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e, em edição do ano 2000, publicados pela Edusp e Imprensa Oficial com o título “Diário de Navegação” de Juzarte.

A expedição iniciou-se no dia 10 de março de 1769, saindo de Araritaguaba (Porto Feliz.). No dia 15 de abril daquele ano, na estampa 5, Juzarte assinala de próprio punho, no borrão: “Aqui é o mato onde se fazem canas.” Tratava-se da barra do rio Capivari, em direção à barra do rio Piracicaba, onde ele se encontrava naquele dia. As canoas eram especialidades do Capitão Antônio Corrêa Barbosa, para o que tinha, à sua disposição, degregados e prisioneiros.

É o seguinte o registro de Teotõnio Juzarte, sobre sua chegada a Piracicaba, no dia 17 de abril de 1769:

“Amanhecendo este dia, pelas seis horas e meia da manhã, embarcou tudo e seguindo viagem navegamos até a barra do rio Piracicaba à qual chegamos às onze e meia da manhã e aí chamamos Antônio Barbosa, diretor de uma povoação situada para as cabeceiras deste rio o qual tinha descido por ele abaixo a encontrar-nos no dito rio Tietê; defronte desta barra do Piracicaba embicamos para fazer pouso, navegando esta manhã por tempo de cinco horas nas quais andamos cinco léguas e meia. Pousamos defronte a dita barra cuja é larga e bastantemente cheia de águas, sobe ao rumo de nordeste e aqui falhamos a tarde do dia dezessete; logo desembarcamos tudo para terra e saíram muitos homens a caçar por aqueles matos onde se perdeu um soldado pago dos trinta que me acompanhavam, o qual entranhando-se pelos matos se perdeu; achando-se falta deste camarada já quase Ave-Marias, se mandaram pelos matos alguns práticos e pelo rio um batelão atirando uns e outros tiros para que soubessem os do rio e os de terra, ouvindo as salvas, em que altura ficavam uns dos outros; e, com efeito, sendo já oito horas da noite, ouviram que o soldado gritava, acudindo para aquela parte deram com ele trepado sobre uma árvore sem saber em que parte estava e disposto a fiar a morrer naquele sertão; contou que o motivo de trepar naquela árvore fora um grande número de porcos-do-mato que com violenta carreira se encaminhavam para ele, aos quais seguia e perseguia uma onça de extraordinária grandeza, que à vista disso se salvou em cima daquela árvore para passar ali a noite até o dia seguinte para então ver se acertava com o lugar onde ficavam as embarcações. Recolheram-se estes homens trazendo consigo o perdido e aqui ficamos neste pouso a noite do dia dezessete para o dia dezoito.”

(Foto: Daniel Damasceno.)

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