Regatas: tradição em matéria de clube

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Esse texto foi publicado em outubro de 1988 no semanário impresso A Província. Recuperamos para marcar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

Tradição mesmo em matéria de clube e de esporte em Piracicaba fica com o Regatas. Afinal de contas, ele foi o primeiro clube a ser fundado na cidade e ainda no começo do século, mais precisamente em 12 de Outubro de 1907. Foi ali, à beira do rio, lugar onde na opinião de muitos reside a verdadeira alma de Piracicaba, que começaram as atividades esportivas.

O remo era a grande sensação, num tempo em que o rio tinha outra vida. Muitos nomes de destaque apareceram e levaram o nome da cidade até em nível nacional. Só que a coisa não parou por aí, o Regatas também foi quem iniciou a prática do basquete, quando ele ainda era conhecido como “bola ao cesto”, lançando toda uma geração de atletas, muitos alcançando grandes conquistas.

Mas o tempo passa e as coisas ficam para trás, pertencentes a um passado remoto. Seria assim, se agora o clube não estivesse interessado em retomar um pouco de suas antigas tradições. Parece até que uma nova onda de entusiasmo se verifica nos clubes locais, já que o velho Coronel Barbosa também está querendo voltar a ter a sua representação social.

Pois é, a mesma coisa também está acontecendo com o Regatas, que quer voltar a ter um nome significativo para o esporte. O atual presidente, Nilton Roberto Servino, de 24 anos, reconhece que este projeto pode dar resultados a médio e longo prazo, mas de qualquer maneira diz que já está pensando em fazer com que o clube volte a ser o que era.

TRADIÇÃO

Apesar da pouca idade e do curto período em que ocupa a presidência (apenas sete meses), Nilton demonstra conhecer um pouco da história do Regatas, e não só a sua data de fundação. Sabe que a palavra chave é mesmo tradição. “0 Regatas tem uma tradição enorme para o esporte local, foi ele quem trouxe todo o esporte para a cidade, foi o responsável pelo início dessas atividades. Foi onde começou o ‘bola ao cesto’ e o seu forte era o remo, até porque o rio ainda era bom e tinha sempre competições.”

Hoje tudo isto está parado, em função até mesmo de uma fase do clube que ele mesmo reconhece como decadente. Mas também entende que nunca é tarde para dar início a um novo processo. E percebeu que a questão básica para levantar o Regatas passa mesmo manutenção do calendário esportivo. O professor Márcio Araujo vai organizar a parte de competições. A canoagem também vai voltar e estamos num trabalho em conjunto com a equipe ‘Novo Rio’. Isso vai começar logo e já no dia 13 de novembro teremos uma gincana de caiaques”, conta.

BEIRA DO ABISMO

Todo esse trabalho de reerguer o Regatas não parece ser fácil, coisa que o próprio presidente admite. “Na década de 60, por exemplo, havia duas alas que não se entendiam de jeito nenhum. Quando uma delas assumia, queria sempre fazer algo para diminuir o que a outra tinha realizado e nunca apareciam coisas novas. Com isso, uma das alas saiu e fundou o Bela Vista Nauti Clube. E o maior prejudicado no final da história foi o próprio Regatas.”

Também acredita que clube tem muito a ver com moda e, quando ele deixa de ser destaque, sente os efeitos. Mas não considera esta a questão principal, entendendo que o básico é administrar a economia e a situação em que o clube se encontrava. “Estava à beira do abismo.” Nilton tem o cuidado de não deixar transparecer que a culpa por isso possa pertencer às pessoas que o antecederam na administração. Deixa isso de lado e prefere afirmar que são sintomas de um processo mais amplo, ligado principalmente a uma falta de interesse e a um acomodamento.

“A gente sentia falta de uma equipe que visse o clube também como uma empresa, não com o objetivo de que dê lucro, mas que possibilite o seu crescimento e a sua renovação.” Para ele, o Regatas estava vivendo pra não morrer e com isso veio um declínio. Pelo menos ele diz que as finanças já estão equilibradas, o que é fundamental para o futuro. “Quando entramos, havia 1500 sócios cadastrados, mas apenas 350 pagantes. O pessoal simplesmente tinha parado de pagar. Hoje contamos com 650 sócios, mas todos estão pagando suas mensalidades. Com isso a dívida, que era de 720 mil cruzados, praticamente zerou.’

Diz que isso só é possível quando o associado sente que o clube tem alguma coisa para oferecer e não está parado. Procurou eliminar a insegurança dos sócios, já que antes havia pessoas de atitude inadequada que simplesmente invadiam o

Regatas e não havia o menor controle, além de cuidar da conservação e da pintura. “O Regatas estava decadente e agora respira mais aliviado. Estamos procurando a recuperação depois de um longo período de crise. Não sei se eu sou muito otimista ou se no fundo nunca me conformei com a situação em que ele estava.” O Regatas parece mesmo decidido a deixar longe a beira do abismo.

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