Tá faltando Gingobél no Natal?
O que mudou no Natal? Como era comemorada a data por volta dos anos 50? Em 1989, A PROVÍNCIA resgatou histórias de pessoas que tinham, na época, cerca de 45 anos e contavam com saudades de seus Natais quando crianças. Naquele tempo eles já observavam mudanças na forma de se comemorar a data…
A reportagem foi feita por Erika Mazon para o Semanário A PROVÍNCIA, para a semana de 23 de dezembro de 1989.
Com uma expressão saudosista no rosto, Onofre Libardi, que tinha então 50 anos, lembrou dos Natais quando criança. A data era comemorada no sítio onde morava e iam todos os 12 irmãos com suas famílias compartilharem do mesmo almoço. No menu, cabrito, frango, leitoa e, na cabeça, um entusiasmo grande por “viver tudo em família”. A diferença daquele tempo para o ano de 88, segundo considerou, já era muito grande. “A turma respeitava mais a data e ficávamos esperando ansiosamente a chegada do Natal.”
Presentes? “Não existia esse negócio, não. Só a união. A gente gostava não por causa de presentes, mas pela festa que era” – contou relembrando as missas realizadas na Capela.
Ainda era 1988 e Onofre tentou explicar as mudanças. “Cada um começou a querer levar a sua vida. Foram se casando. Não sei se foi isso que aconteceu com a gente” – refletiu. “Depois tudo se tornou mais comercial. Se você for dar qualquer coisa de presente ao filho, ele logo reclama, dizendo ‘não quero esse presente’. Dá saudades daquele tempo. Era outra coisa … “, completou.
Romeu Avelino Zuntini, comerciante, tinha na época da reportagem 43 anos, também lembrou com carinho dos seus Natais e embora tenha lamentado as transformações em torno da data, falou com alegria que, antes, todos acreditavam em Papai Noel. As casas comerciais – segundo ele – entregavam os presentes às crianças com um caminhão grande com um Papai Noel animando. “As crianças saíam nas ruas para ver o caminhão passar na tarde da véspera de Natal. Á noite as famílias se reuniam nas ceias para comer leitoa, peru, frango, frutas e, era bem mais fácil ganhar o presente que se estava esperando. Antes, tudo era comprado à vista”.
Romeu também se recordou das árvores de Natal com pisca-pisca em casa e da alegria da montagem dos presépios.
“Comemorávamos com a mesma intensidade mas com menos ostentação, com mais pureza, mais simplicidade” testemunhou Eunice Marconi. Segundo contou “no seu tempo” as mães preparavam os deliciosos cuscuz de Natal e assavam as leitoas, já que – como disse – tudo era bem mais fácil de se comprar. “Não existia amigo secreto e nem muita ceia. A noite na véspera, nos reuníamos e saboreávamos uns salgadinhos, aperitivos leves e fazíamos, depois, grandes almoços”. O que Eunice recorda com carinho era o ficar acordado até a meia noite e sair depois cumprimentando os vizinhos. Os pais davam pequenas lembranças às crianças e Eunice comparou: “Não éramos explorados pela televisão e nem tinha bonecas que sobem na parede e fazem de tudo. O que fazíamos era namorar as vitrines da rua Governador por uns 15 dias e, no dia de Natal, íamos com o meu pai comprar o presente que ele podia. Me lembro de uma bonequinha que ganhei e do tratorzinho do meu irmão. Era uma delícia”.