A tevê, derrotando os pais?

O texto abaixo foi publicado em outubro de 1987 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

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Segundo a psicóloga Darlene Barbosa Schutzr, responsável pelo primeiro grau do Colégio Piracicabano, há dois anos atrás as programações matinais oferecidas pelas emissoras de TV eram bem variadas, com programas do tipo TV Mulher, Telecurso 2º Grau etc. Como a criança em geral não tinha o que ver na TV, passava seu tempo brincando, desenvolvendo a sua criatividade.

“É comum hoje em dia percebermos o fato de que muitos pais que trabalham fora deixam seus filhos vendo televisão em casa; afinal assim eles ficam quietinhos e não sujam nada”. Para Darlene, a TV tem muito a ver com a carência de relacionamento pois a estrutura da sociedade está baseada na criança sem muito contato com os pais, pois geralmente mora em apartamentos ou casas pequenas onde as famílias vivem de maneira um pouco isolada. Em função disso, a criança tem a necessidade de ver projetado na tela um ideal de relacionamento que ela não conhece, e a Xuxa lhes transmite isso. Infelizmente, ela passa um ideal da roupa que se veste, da música que se ouve, da comida, do brinquedo e toda uma carga de consumismo que está infiltrada em seu programa. A criança acaba assimilando toda a propaganda, e aquilo que passa na TV começa a fazer parte do seu mundo. A criança, hoje, se tornou uma perfeita consumidora, já não sabe mais inventar seus brinquedos e a única coisa que serve são os brinquedos oferecidos na TV”.

Outro fator preocupante, segundo Darlene, é em relação aos desenhos apresentados, já que alguns apresentam modelos de super-heróis que violentam a fase de fantasia da criança (a mais nova especialmente). Toda a sua fantasia é podada e substituída pela fantasia do desenho animado. Ela passa a usar um modelo que aparece na TV, um modelo que é inatingível e isto dificulta a elaboração da fantasia que a criança precisa ter. Nos desenhos ela assiste a uma final feliz e passa a acreditar que se ela tivesse aquele domínio de força, aquelas armas e aquela conduta, seria capaz de dominar a todos.

A violência na TV 

Atualmente o desenho mais visto no “Xou da Xuxa” é o Rambo. Por coincidência ou não, é o mais violento.

Para Darlene, o efeito destes desenhos já se faz sentir. As crianças de hoje estão se comportando de maneira tremendamente repressiva e ao mesmo tempo tremendamente passivas. Apesar destes comportamentos serem contraditórios, caminham juntos. Passivos diante de qualquer situação que ela sinta como ameaça aos poderes que julga ter, e ao mesmo tempo agressiva pois, num primeiro momento, ela se acha capaz de dominar urma determinada situação, então a criança agride, e, não conseguindo resultado, se acua num canto como um bebezinho. Isto dificulta o exercício da criança de adquirir autoconfiança, quebrando sua linha de desenvolvimento.

Por outro lado, se a criança estivesse aprendendo com modelos que tivessem problemas e até fracassos, teria mais facilidade de resolver seus problemas do dia a dia. Porém, os modelos apresentados pela TV hoje são perfeitos, inatingíveis e isto aumenta a angústia da criança, pois entra em conflito com a sua realidade. Aí ela extravasa tudo na passividade e na agressividade. Esse binômio começa a andar junto.

Assustada, Darlene observa uma geração de criança aprendendo a resolver tudo com a violência, a imaginar armas sofisticadas e achar que estes meios podem resolver qualquer problema.

À medida com que nós fazemos com que as crianças entrem neste mundo de violência, impedimo-las de realizarem uma fase do seu desenvolvimento, onde elas podem sonhar com um mundo mais bonito, de acreditar que as pessoas pelas pessoas podem encontrar seus próprios caminhos.

Quando os heróis vencem os pais

Para Antonio Carlos e Ana Maria Leite de Melo, pais de três crianças (Cacá, 7 anos; Makiza, 6 anos e Thiago, 5 anos), a Xuxa só alcançou todo esse sucesso devido à grande influência que a Rede Globo possui no país. “Se ela trabalhasse em outra emissora, não faria tanto sucesso, já que não possui nenhum talento e não tem jeito com as crianças.”

Para eles, as crianças de hoje já não têm mais espaço nem liberdade como antigamente, quando todos brincavam pela rua de esconde-esconde, papagaio etc. “Senta-se em frente à televisão e recebe passivo uma poderosa influência que dita o modo de vestir, brincar, comer”, afirma.

Quanto ao problema da violência, Antonio Carlos diz que ela nunca acabará. No seu tempo de infância, existiam o Zorro e o Fantasma, hoje surgem Rambo e He Man. Mudam-se os ídolos, mas a violência continua. Em sua opinião não adianta fechar os olhos, “pois a violência está à nossa volta”. Acredita ser necessário saber orientar as crianças, para o que se deve ou não fazer.

1 comentário

  1. Henrique Eder Santana em 11/04/2018 às 09:57

    kkkkkkkkkkkkkkk, engraçado em 1987 eles dizerem que Xuxa não tinha jeito com criança quando na verdade, ela os tratava de igual para igual, não como um adulto e uma criança… kkkkkkk

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