Uma linguagem

Muito se procurou explicar a chamada “linguagem caipiracicabana” que, no entanto, nada mais é do que a própria linguagem caipira paulista. Todas as teses – de que seria maneira de falar influenciada por migrações norte-americana na região e a italiana – não têm fundamento. O Vale do Tietê Médio – onde se situa Piracicaba – e o Vale do Paraíba mantêm resquícios dessa “cultura caipira” que é muito forte, do “português” arcaico. A própria palavra caipira significa essa “cultura antiga” que ficou à margem dos rios percorridos pelo colonizador e onde se alojava a nação tupi-guarani. “Cá i pira”, em tupi, tem esse significado: “a mata que acompanha o rio”. É a linguagem com que os indígenas corromperam o “português arcaico”, tanto que quase todos os topônimos são de origem tupi-guarani, Piracicaba incluindo.

O estudo é de Ada Natal Rodrigues, para quem houve o encontro de duas etnias – o português arcaico e o tupi –guarani – formando essa linguagem e essa cultura caipiras, o “falar feio e bonito” . Quando o sertanista se tornou sedentário e os filhos passaram a freqüentar colégios, o “falar” passou a ser chique, mas o “sotaque” piracicabano, que Piracicaba assumiu como “caipiracicabano” permaneceu. Onde os sertanistas chegaram, o dialeto ficou: o abrandamento dos “erres” e o arredondamento dos “eles”, o chamado “erre retroflexo” que é pronunciado com a língua retraída para o fundo. O “perarta” no lugar de peralta, o “sarto” no lugar de salto são parte dessa linguagem. Na região de Piracicaba, ao contrário do que muitos julgam, foram os italianos que se influenciaram com a nossa maneira de falar e não o contrário. A noção de que “caipira é feio” vem do “Jeca Tatu” de Monteiro Lobato, muito diferentemente do personagem arguto e brilhante de Cornélio Pires, também caipira, o “Joaquim Bentinho”.

Sobre o tema, Cecílio Elias Netto publicou o “Dicionário do dialeto caipiracicabano”.

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