Fortunato Losso Netto

1910 – 1985
Fortunato Losso Netto pode ser considerado um pintor bissexto, graças à sua parca e despretensiosa produção artística. Contudo, não se pode negar sua importante influência e contribuição para as artes plásticas piracicabanas, quer sob o prisma artístico propriamente dito, ao dar continuidade à vertente do “Realismo Ingênuo” da Escola de Piracicaba, quer como militante engajado na difusão e no florescimento da cultura em Piracicaba, nos 45 anos de sua vida, dedicados ao jornalismo.
Umberto Consentino, crítico de arte que melhor soube classificar e analisar o movimento artístico piracicabano, atribui a uma das vertentes do realismo, da Escola de Piracicaba, o nome de “Realismo Ingênuo”, cujo primeiro e maior expoente é Miguel Archanjo Benício de Assumpção. Outra, que atuou em Piracicaba em meados do século XIX.
É nessa vertente do movimento artístico de Piracicaba que Umberto Consentino situa a obra pictórica de Fortunato Losso Netto, que, embora em menor escala, contribuiu para sua continuação no início desse século, ao lado de nomes como Manoel Rodrigues Lourenço e Laureano de Oliveira Dorta, este último na escultura. Fortunato Losso Netto, nasceu em Piracicaba, em 15 de agosto de 1910, filho de José Rosário Losso, italiano imigrado ao Brasil, e Antonietta Losso. Foi um autodidata na pintura, suas telas foram pintadas, sobretudo, na década de 1930, graças ao estímulo e às primeiras lições dadas por seu irmão mais velho, Eugênio Luiz Losso, pintor erudito, de formação européia e exímio desenhista. Seus primeiros trabalhos artísticos da juventude, uma escultura em barro, reproduzindo uma cabeça de carneiro e um desenho em aquarela, ambos de 1927,já denotavam seu talento artístico e o impulso espontâneo e ingênuo de sua arte. As suas primeiras telas a óleo foram produzidas no período de 1929 a 1934, quando cursava a Faculdade Fluminense de Medicina, em Niterói-RJ, provavelmente em companhia de seu irmão, Eugênio Losso, o qual também retratou as mesmas paisagens. São exemplos desse período as obras “Igreja do Sacco de São Francisco” e “Praia Vermelha” (com vistas do Pão de Açúcar), essas pinturas apresentam nítida influência do realismo erudito da pintura de Eugênio Losso, em especial quanto ao uso das cores e da luminosidade. Com seu retomo à Piracicaba, passa a retratar suas paisagens, em interpretações livres e sem pretensões de registro iconográfico. A simplicidade de suas pinceladas revelam o lirismo ingênuo que lhe marcam o conjunto da obra. O melhor exemplo desse realismo ingênuo, na opinião do crítico Umberto Consentino, é seu quadro “A Loca de Pedra”, por retratar a correnteza do rio Piracicaba e as casas ribeirinhas em pinceladas simples e monodirecionais, configurando-se composição pictórica intuitiva e espontânea. Pintor diletante e de produção esporádica, Fortunato Losso Netto volta a pintar na década de 1950. Seus quadros dessa época apresentam maior despreocupação com o desenho das formas e suas pinceladas são mais impressionistas, deixando transparecer a emoção captada pelo artista na paisagem retratada. Nunca se preocupou com sua produção artística, sempre foi um autodidata e pintor diletante, como ele mesmo se denominava. Não obstante isso, alguns de seus quadros vieram a integrar os primeiros Salões de Belas Artes de Piracicaba, para cuja criação tanto contribuiu. Sua vida foi inteiramente dedicada ao exercício da medicina, como radiologista responsável da Santa Casa de Misericórdia, em Piracicaba, cujo Centro de Radiologia, hoje, leva seu nome e ao jornalismo, à frente da direção do Jornal de Piracicaba, por mais de 45 anos. Sua atuação nos movimentos artísticos de Piracicaba foi marcante, quer como jornalista, escritor e crítico de arte atuante, quer como membro do antigo Orpheão Piracicabano e fundador da Sociedade de Cultura Artística de Piracicaba. Hoje, o Teatro Municipal de Piracicaba denomina-se “Teatro Losso Netto”, em homenagem à sua atuação no desenvolvimento das artes plásticas e da cultura em Piracicaba.

Texto de Marcelo Batuíra

Obras
Praia Vermelha (com vistas do Pão de Açúcar)
• 1935 – Niterói óleo sobre cartão – 24 x 30 cm
Acervo particular de Marcelo Batuíra C. L. Pedroso










Igreja de São Francisco – 1935/ Niterói-RJ
óleo sobre cartão 24x 30 cm
Acervo particular de Marcelo Batuíra C. L. Pedroso

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