A genialidade de Pacheco Ferraz

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Obra de Pacheco Ferraz

Esse texto foi publicado em julho de 1988 no semanário impresso A Província. Recuperamos para destacar os 30 anos de atuação na cidade.

Ele é um mestre da pintura piracicabana. Fica possível não dar essa definição para Antonio Pacheco Ferraz, assim como fica difícil entender a arte local sem a obra desse homem calmo e sereno que, aos 84 anos, continua em plena atividade.

Fica marcada a presença de um grande colorista, que usa as cores em suas telas sem fazer economia, em trabalhos luminosos e de forte caráter impressionista.

A cidade deve uma homenagem a ele? Claro que sim. E neste ano ela surge no Salão de Belas Artes, que será aberto dia 31 de julho na Casa de Artes Plásticas. O mesmo salão em que ele é frequentador desde o início, há 36 anos. “Sempre mandei as minhas obras e, neste tempo todo, recebi toda a premiação, inclusive a Grande Medalha de Ouro”, lembra.

Nada mais justo, portanto, que ele tenha uma sala totalmente dedicada à sua obra, apresentando oito pinturas e três esculturas feitas com sucata, que marcam diferentes fases de sua carreira.

Só que não há como esconder termine por se assemelhar com um pedido de desculpas, já que surge depois de notícias que davam conta de que um de seus trabalhos teria sido recusado pela comissão selecionadora. “Eles me procuraram e garantiram que isso era um equívoco e não quis levar adiante”, afirma, elegante.

OBRA RECONHECIDA

O talento de Pacheco Ferraz já foi reconhecido por artistas e críticos até de outros países. Ermelindo Nardin, mais identificado com a arte contemporânea, destacou a importância e a influência que teve de seu trabalho.

Umberto Cosentino, da Associação Brasileira de Críticos de Arte, também elogia. “Pacheco Ferraz reflete o homem ouriundo da província, que aceitou o desafio dos grandes centros”, destacou.

A obra de Pacheco pode ser encontrada em várias partes, desde o acervo da Casa de Artes Plásticas, passando pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu dos Bandeirantes e outros.

 

 

VOCAÇÃO NATA

Analisando sua vocação para a pintura, ele chega a dizer que praticamente nasceu junto com ele. “Vem desde a infância, foi uma coisa natural e quem mais me influenciou foi minha mãe, Francisca Pacheco Ferraz, a minha primeira animadora”. As aulas de desenho começaram com uma parente, Maria Teresa Ferraz, que logo as interrompeu, dizendo que nada mais tinha a ensinar para o garoto.

Foi assim que, aos 17 anos, começou uma etapa decisiva para a solidificação de sua carreira: o convívio com os Dutra. “Eu tinha aulas com o Dutra, que contribuiu muito para a minha formação. E era amigo dos filhos deles, Pádua, Joao e Archimedes, que regulavam em idade comigo. Nós íamos sempre pintar nas margens do rio, éramos um grupo unido”.

Só que havia um outro irmão Dutra: Alípio, que estudava em Paris. Foi quando ele veio de férias para Piracicaba que surgiu a ideia de passar uns tempos se aperfeiçoando na França. “’Eu perguntei a ele se tinha condições de ir até lá pelo meu trabalho. Ele disse que eu tinha futuro e acabou convencendo meu pai a me mandar pra lá”, lembra Pacheco.

VIVÊNCIA EUROPÉIA

Assim, entre 1926 e 1930, Pacheco Ferraz teve a oportunidade de vivenciar um período importante, através do contato com a realidade européia, que até hoje se faz presente em alguns de seus trabalhos, principalmente a Bretanha francesa e sua religiosidade. “Em Paris, eu estudei com mestres famosos como Emile Renard e Lucien Simon. E por dois anos consecutivos, em 1928 e 1929, tive obras minhas expostas no Grande Salão de Paris, um dos mais importantes do mundo”.

A Europa para ele não se resumiu à França, pois em 1929 percorreu muitos países, como Itália, Portugal e Espanha. “Foi muito importante para mim conviver neste ambiente, foi a mesma época em que Picasso começava a fazer sucesso. E lá encontrei-me com vários pintores brasileiros, como o Portinari”, recorda.

Acha que estes anos foram decisivos para sua afirmação como artista. “Eu penso que, se não tivesse ido para a Europa, hoje a minha pintura seria totalmente diferente, eu não teria desenvolvido a minha carreira como fiz. Não diria que ela seria pior, mas certamente seria bem mais limitada”.

VOLTA AO LAR

Passada a fase estrangeira, em 1930 ele volta para o Brasil. Sai da Europa diretamente para Casa Branca. É claro que não a dos Estados Unidos, mas a do interior paulista mesmo. “Foi um choque muito grande, inclusive porque naquele tempo a arte não era tão reconhecida e eu tinha que exercer outra profissão, então dava aulas.

Logo ele conseguiu viver apenas da arte. “Sinto que a cidade reconhece meu trabalho, vejo que eles admiram o que eu faço, pois tem adquirido muitas obras minhas”.

 

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