Santo Estevo, Bróduei, Zelão.

Ai que saudade que dá, saudade de vê, tamém de namorá. Era uma festa a gente i no cinema, pra vê fita de bangue-bangue, bandido escorrendo sangue, fita de bejo na boca, mocinho dexando a moça loca. Tinha só dois cinema, que pena! E os dói ficava num e notro quarteirão: o cine Broduei e o Zelão.

No Broduei – imitando nome americano – só tinha chiquê, num entrava nego mediano, pobre só podia vê. Em compensação, a festa era memo no Zelão, nome amigo da pobreza, daquele santo da fé, São José. Tinha, tamém, o teatro Santo Estevo, véio de fazê dó, que acabô servino só pra sacanage, para nego fazê bobage. Puis, naqueles tempo – sinhora sinhá, meu sinhô – era bobage e sacanage inté falá de fazê amô. Mai pior ainda, compricação danada, era vê muié pelada se rebolando nos parco, tudas pintada de tarco. Era de ansim no Santo Estevo, que parecia tê chifre e tê rabo, lugar chamado de “Boca do Diabo”.

Tinha a “Carçadinha de Oro”, onde os moço ficava de zóio nelas, moça passando na rua do Passarella. As moça, fingida, fingia de sê tudo certinha, mai, quando pudia, dava escapadinha, entrava na doceria e ia fumá. Ou bejá. Pois os moço cumbinava co Passarella, entrava escondido atrais das bela, ficava escondido se aparpando, se bejando e só Deus sabe mais quê. Nisso num quero se metê.

Mai num me apergunte dos firme do cinema, das fita, que só sei dizê dos nome dos artista. Pois bão mesmo, mai bão do que vê bandido e mocinho, era ficá no escurinho. Se Humfre Bogar tacava bejo na Ingrid Berga, daqueles bejo moiado, a gente bejava quem tava do lado. Então, se dava argum estalo, o “lanterninha” ponhava luiz na cara dos namorado, pra nego ficá envergonhado e, de passage, pará cua sacanage.

No Broduei, as coisa era mais asossegada. Mai, no Zelão, o povão, a gente assanhada mostrava o que, de verdade, era bão: batia parma, assubiava, xingava o lanterninha, vaiava a mocinha, fazia fuzuê no pulero, aquele lugar lá no arto, onde só havia sarcero.

Num tinha ainda pipoca e Coca Cola, mai tinha amendoim torradinho, moçada da escola, menino e menina agarradinho, namoro escondido, mão boba dos neguinho procurando coisa das mocinha, suspiro de coração, gemido de emoção, um tempo bão onde um simples bejo era o grande desejo. E pegá na mão despertava paxão.

Na verdade, na verdade – ora veja!- acho que Broduei e Zelão, mai do que cinema, era igreja. Pois lá, num tinha choro: pegô na mão, já tem namoro. E se acontecia coisa de namorá, era preciso casá. Quando acabô escurinho de cinema, acabô romance, óia só, que pena!

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