A flor roubada do túmulo

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Esse texto foi publicado em julho de 1988 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

Acontece cada coisa em cemitério! Coisas que até Deus duvida, algumas capazes de arrepiar e até aquelas nitidamente tragicômicas. Não é por outra causa que os cemitérios são os maiores cenários de causos. Não tem quem não acontecerem naquele lugar, de preferência com uma alta dose de suspense e sem desprezar, é claro, a presença do sobrenatural.

Só que fica um pouquinho difícil acreditar em todas elas. Mas, afinal de contas, causo é causo, ninguém precisa provar nada. E depois também, pra que? Adianta perguntar se realmente aconteceu?  Então, quem quiser curtir os causos, é melhor nem pensar que se trata de imaginação.

A ROSA DO VÉIO

Este quem conta é a Sueli Borges, de 24 anos. Ela diz que, quando era menina, sempre acompanhava a mãe até o Cemitério da Saudade para visitarem o túmulo da avó. E para ela, isso não era uma coisa chata, não. Pelo contrário, gostava de lá, até achava o ambiente legal. Subia as escadarias do mausoléu do Prudente, rezava para o padre Galvão.

Só que um dos túmulos despertava de maneira especial sua curiosidade, como diz: “Era aquele da rua principal, que está logo perto da entrada, o que tem um livro caído no chão”. Aliás, cá entre nós, não dá pra nem se sabe direito o nome do homem que está enterrado ali, mas muitas histórias começam dizendo que ele teve um enfarte durante a leitura. Outros dizem, não se sabe bem porque, que ele era muito avarento.

Contaram pra Sueli a segunda história. Então, um dia, resolveu dar uma de atrevida. “Eu subi no túmulo, brinquei lá em cima e sentei no colo do homem, quer dizer, na estátua dele, né. E ainda por cima, peguei de lá uma rosa vermelha bonita e levei pra casa”.

Sueli diz que ficou muito contente por ter feito isso. “Senti que estava desafiando, coloquei a rosa num vasinho que eu tinha no criado mudo ao lado da minha cama”. Foi dormir feliz, mas logo depois foi assaltada por algo que não soube definir se era um sonho ou uma visão. “Eu vi claramente no meu quarto a figura de um velho de barbas brancas. O véio gritava, me xingava dizendo ‘Devolva a minha rosa, sua pestinha!’. Eu fiquei muito assustada com isso mas, quando acordei, achei que tinha sido um sonho”.

Pensou diferente quando finalmente olhou para o vaso. “Não tinha nada nele. Cadê a rosa? Eu perguntei para todo mundo de casa, mas ninguém disse que tinha pegado”. Para ela, ficou um grande mistério. Tanto que hoje, quando vai ao cemitério, nem passa mais perto daquele túmulo.

A ALMA BOA

Júlia Rodrigues, de 32 anos diz que, numa época, teve uma experiência diferente no cemitério. “Encontrei uma amiga, que estava chorando muito. Ela me contou que descobriu estar grávida de dois meses, o namorado tinha viajado e não sabia como iria contar isso para a família”.

Com pena da amiga, mas sem poder fazer muita coisa, Júlia apontou o túmulo que estava lavando e disse: “Reze para essa pessoa, foi uma alma boa e compreensiva e vai ajudar você a encontrar uma saída”.

No dia seguinte, a amiga a procurou. “Ela me falou que tinha sonhado com alguém que nunca tinha visto antes. Me descreveu a e eu confirmei as suas suspeitas de que era mesmo aquela pessoa. Então, me contou que ele afirmou no sonho que, dentro de três dias, o namorado iria aparecer e no prazo de quinze dias eles iriam se casar, e sem que ninguém desconfiasse de nada. Disse que era ela ter muita fé que tudo iria correr bem e as coisas acabariam se ajeitando”.

Se deu certo mesmo? Júlia garante que foi dito e feito. “Dali a duas semanas eu estava no casamento dela, que estava muito feliz. E aquilo ficou como um segredo entre nós duas. Quer dizer, também junto com a alma poderosa. As almas boas têm muito poder”.

O FIEL CACHORRO

Tânia Moraes, de 27 anos, tem também um causo de cemitério. Uma história que começa muito triste, quando seu primo de 19 anos morreu num acidente de moto. “Ele era um rapaz muito bom, o  xodó dos meus tios, que ficaram muito abalados”.

Questão que exigiu algumas providências por parte do casal, que morava junto com o filho no bairro Campestre, na zona rural. Acontece que o rapaz tinha um cachorro, um doberman, que era seu companheiro inseparável e que nunca tinha saído do sítio. “Então, quando ele morreu, minha tia resolveu que não queria ficar mais com o cachorro, porque lembrava ele demais e só apertava a saudade. Combinaram que ele iria para a casa de um amigo na cidade”.

Só que acabaram tendo uma surpresa, como diz Tânia. “Perceberam que o cachorro tinha fugido. Eles ficaram preocupados, porque afinal de contas, o cachorro era uma das alegrias do meu primo, e eles queriam cuidar dele. Colocaram anúncio no rádio e no jornal, mas não tiveram nenhuma notícia”.

Isso aconteceu numa terça-feira, mas quando chegou o domingo, a tia de Tânia foi fazer sua visita semanal ao túmulo do filho. Quando chegou até lá, adivinhe, quem é que estava lá? Acreditem se quiser: o cachorro, em carne e osso. “Minha tia — diz a Tânia — ficou emocionada com isso. Conversou com o coveiro e ele falou que já fazia quatro dias que estava lá e tomava conta, não deixava ninguém chegar perto. E ninguém até hoje entendeu como o cachorro, sem nunca ter saído do sítio, foi até o cemitério e achou direitinho o lugar onde estava enterrado o meu primo”. Pois é, depois quando se fala que “o cão é o melhor amigo do homem”, tem gente que ainda não acredita.

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