Luciano adiscurpa a caipirada

O folclore político em torno de Luciano Guidotti, um dos grandes prefeitos de Piracicaba, é saboroso. Dele e do que ele fazia, pode-se dizer o italianíssimo “se non è vero, è ben trovato”. Esse folclore e o bom humor em relação a Luciano dão a marca da personalidade que encantou o povo à sua época, apesar da figura polêmica e contraditória que ele foi.

Luciano tinha, na Prefeitura, um militar que lhe servia no gabinete, o Laerte Pena dos Santos. Era o chamado “pau para toda obra”: motorista, recepcionista, companheiro de viagem, segurança. Laerte era um dos poucos motoristas a levá-lo a São Paulo onde, aliás, Luciano transitava com facilidade. Numa dessas viagens, o destino era a Secretaria da Educação, no Largo do Arouche. E estavam atrasados.

Chegando ao Arouche, Laerte quis contornar a praça, evitando entrar na contramão, embora o trajeto fosse mais longo, aumentando o tempo de atraso. Luciano ordenou, ao seu jeito: “Vá, vá, taca essa merda na contramão memo, ninguém vai percebê . “ Laerte hesitou. Luciano insistiu: “Num tô falano procê ponhá essa merda de carro na contramão, num tô falano?”E Laerte, enfim, obedeceu.

Foi um só instante. O apito do guarda de trânsito soou estridente. E lá estava o homem, truculento, mandando Laerte encostar o carro. No instante seguinte, Luciano deu um berro, para o guarda ouvir, xingando Laerte: “Num falei, num falei que era contramão? Quem mando ocê desobedecê?” E, diante de um Laerte ainda apalermado, justificou ao guarda de trânsito: “Adiscurpe esse motorista, seo guarda. Ele é caipira de Piracicaba, num sabe andá de carro na capitar…”

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