Luciano e as freiras pidonhas

Luciano Guidotti, mesmo antes de ser prefeito, era queridíssimo também nos meios religiosos. Benemérito de entidades, associações, foi um homem que – tendo conhecido a pobreza – fez questão de, quando vitorioso como empresário, participar dos problemas da comunidade. Foi um dos responsáveis pelo fortalecimento do Lar dos Velhinhos, ainda na década de 1950, homem de confiança do primeiro bispo de Piracicaba, D.Ernesto de Paula, atento provedor de casas e asilos de menores, um benemérito, enfim, da cidade.

O chamado “pensionato das freiras” – também chamado de “Dispensário dos Pobres” – na rua do Rosário, era uma das instituições a que Luciano mais assistia. E, quando prefeito, as religiosas continuavam a procurá-lo. Ora se queixam de os bueiros da rua entupirem, causando inundações; ora pediam providências contra malandros que tentavam saltar os muros e mexer com as moças pensionistas. Luciano atendia, elas retornavam, sempre querendo mais coisas, pedindo mais. E Luciano – homem explosivo, de pouquíssima diplomacia – foi-se enchendo.

A Prefeitura era, ainda, na rua São José, na antiga casa do Barão de Rezende, hoje transformada em estacionamento anexo à Câmara Municipal. Luciano lá estava, portas abertas, atendendo a funcionários, comerciantes, o povo. E as freiras sentadinhas na pequenina recepção, esperando. Passava o tempo e as freiras, pacientes, ainda esperando. Luciano, ocupado e sem tempo, não queria atendê-las. Até que, no finalzinho da tarde, não houve mais jeito e autorizou que elas entrassem em seu acanhado gabinete. A Madre Superiora não hesitou em protestar, em reclamar e acabou pedindo: “O Comendador precisa mudar todo o esgoto do dispensário, tem que ajudar na construção de um novo pavilhão para os pobres, melhorar o alojamento das moças…”

Luciano ouviu, foi-se irritando, o rosto avermelhando, sinal perigoso de explosão. E, finalmente, não se conteve, bufou e falou para a Madre Superiora: “E no seu rabinho, ocê num qué tomá nada?”

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