“Na Oropa, só coisa véia”
Quando candidato, pela segunda vez, à Prefeitura de Piracicaba, em 1961, Luciano Guidotti tornou-se o maior adversário de si mesmo. A oposição lançou, como candidato, o deputado Bento Dias Gonzaga, o Bentão, herdeiro político do velho cacique, seu pai, Luiz Dias Gonzaga. Luciano já não era mais o mesmo homem humilde, simples. O poder abrira-lhe apetites e ele, temperamental por natureza, se tornava vaidoso e de poucos ouvidos. À menor crítica, reagia. E, quase sempre, agressivamente.
Bento Gonzaga sabia disso. Astuto, experiente, Bentão provocava-o com insinuações em palanques, nas esquinas, nos bares. Luciano perdia as estribeiras, ameaçava reagir, que era o que a oposição mais queria. Entre os líderes da campanha guidotista, estava outro político experiente, Lázaro Pinto Sampaio, que fora presidente da Câmara, empresário de alto coturno, diretor da Dedini. Sagaz, Lázaro, temendo pelos rumos da candidatura, convenceu Luciano a fazer um giro pela Europa, onde ele estivera algumas vezes. Luciano relutou, mas cedeu, viajou.
Ao retornar, já em véspera da eleição, Luciano não se conformava do tempo que ficara na Europa e só queria falar de seus planos de modernidade para Piracicaba. Um dia, um jornalista lhe perguntou o que, na Europa, ele vira de proveitoso para aproveitar em sua administração. Luciano, inconformado, resmungou: “Na Oropa, nunca aprendi nada. Lá só tem coisa véia. De moderno, mesmo, só aqui em Piracicaba.”