Treze dias em cana

O texto abaixo foi publicado em outubro de 1987 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

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Na província tem contadores de causos que não acabam mais. É só parar numa esquina, num bar, ou numa praça, puxar um fio de conversa com os mais antigos, principalmente para ouvir coisas do arco-da-véia, envolvendo personalidades, moradores, pescadores, jornalistas. Tem gente que sabe causos aos montes. O advogado João Chiarini, por exemplo, sabe pelo menos 100, como o abaixo!

Nesse causo, o personagem principal é o contadô João Chiarini (um dia me perguntaram como é que ele consegue estar em todas…). Aconteceu em 1935, quando ele era “buscador de notícias”, da Gazeta, que originou O Diário. Um dia ele estava indo até o Clube de Regatas Piracicaba e percebeu que alguns homens estavam cortando as árvores centenárias da praça do Gavião, que fica ao lado da cadeia e Pinacoteca. “Para abraçar aquelas árvores precisava de cinco homens” — afirma. Com um pé aqui, outro acolá, voltou à redação da Gazeta e informou o redator chefe Francisco Carlos de Castro Neves que determinou: “escreva o assunto”.

João Chiarini acabou descobrindo que as árvores estavam sendo cortadas por ordem do juiz, mas sem consultar o prefeito, porque as folhas caiam no telhado da cadeia e acabavam entupindo as calhas. Fez a notícia e foi para casa.

No outro dia, um oficial de justiça foi até sua casa avisar que o juiz estava tiririca da vida, esperando-o em sua sala. Chiarini não entendeu nada, até olhar a manchete, em letras enormes, que o redator havia colocado. “Um juiz, muito machado e pouco dinheiro” (um detalhe: o nome do juiz era Paulo Pinheiro Machado).

Conclusão: Chiarini, que por azar havia completado 18 anos nos últimos dias, foi em cana. Ficou 13 dias preso, e, por sorte, um dos presos botou fogo na cadeia e o processo foi destruído.

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