Um pé de botina por cada voto

Quando se fala em corrupção política – no Brasil todo e também em Piracicaba – parece ser algo novo. No entanto, é como se fosse congênito às instituições político-partidárias brasileiras. Como se dizia antigamente: “mudam as moscas, o monte é o mesmo.” A imaginação de políticos para a corrupção é ilimitada.

No início dos anos 1960, apareceu em Piracicaba um comerciante árabe que fez sucesso quase imediato com suas atividades de mascate à antiga. Ele corria bairros, a zona rural que então era extensa, fazendo amigos e conhecidos. Era o Assib Elias Maique. Que, um belo dia, resolveu ingressar na política, induzido por velhas raposas que pensavam, tendo-o como candidato a vereador, apenas aumentar o número de votos de legenda. Quando se abriram as urnas, lá estava a grande surpresa, semelhante à que, nos tempos atuais, nos preparam algumas seitas evangélicas: Assib Elias Maique, um desconhecido no mundo político, estava eleito com estrondoso votação. Mal falava o português, mas sua esperteza ia além de ganhar dinheiro vendendo badulaques.

Os candidatos derrotados não se conformaram. E rebuscaram a vida de Maique, a campanha, os recursos com que se elegeu. E, da zona rural e da periferia, vinha a resposta: centenas de pessoas faziam fila na casa e na loja de Maique em busca do prometido. Revelara-se o segredo: Maique prometia um par de botinas ao eleitor, dava um pé antes da eleição e o outro somente depois de conferir a secção onde o fiel cidadão votara. Ele tinha relação de urna por urna. E, além da botina, Assib Maique oferecia canetas: dava a tampa e entregava o corpo após conferir o voto.

O processo de corrupção eleitoral contra Maique foi longo e ele parecia não perceber a gravidade do que fizera: política era um negócio como outro qualquer, segundo sua análise. E, talvez, estivesse certo. O fato é que ele se tornou um dos símbolos da corrupção na política de Piracicaba naqueles anos que antecederam o golpe de 1964. E serviu, também, para atazanar a vida de um outro político, o também vereador Elias Jorge, homem público trabalhador, conhecido, respeitado.

Para atrapalhar a vida de Elias Jorge, adversários convenceram Assib Elias Maique a publicar uma declaração em que dizia “ao povo, não ser parente de Elias Jorge”. Quase saiu morte na cidade.

1 comentário

  1. Roberto Antonio Cera em 29/06/2015 às 14:26

    Verdade, verdadeira, de verdade. Foi meu vizinho. Teria algum parentesco com o dono deste jornal virtual?

Deixe uma resposta