Nhô Zé e Dr. Zezinho: Lamento caipira

O texto abaixo foi publicado em outubro de 1987 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

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DOUTOR ZEZINHO –  Você está chorando por quê, Nhô Zé? Os padres salesianos estão certos. O negócio é lucro, nego. Se eles já não têm mais espaço para acolher os seus alunos e se as freiras não querem mais educar, o jeito é ficar mesmo com o Colégio Assunção, Seja mais prático, homem! Escola, hoje, é um comércio como outro qualquer.

NHÔ ZÉ — Num é assim, Dotor Zezinho, num pode sê ansim. Meu bisavô foi quem ajudô a construi o Colégio Assunção. Foi meu bisavô quem ajudô as frêra quando o colégio pegô fogo, e elas ficaram morando na casa do meu bisavô. Meu bisavô feiz tudo: deu o terreno, ajudô a construi, deu apoio, deu respeito, deu consideração, deu amor, deu tudo o que as frêra precisavam para que Piracicaba tivesse um colégio sério de educação integral, de ensino completo. Até Prudente de Moraes, que não era lá muito ligado à Igreja, ajudô e influiu. E o Colégio cresceu, foi um orgulho de todos nóis. Minha avó estudô nele, minha mãe estudô no “Assunção”, eu e minha muié estudamo nele, meu filhos estudaro no “Assunção”, e meus netos. É uma história, Dotor Zezinho. Não é um “causo”. É uma história. E os salesianos, quando vieram, fui eu que dei tudo prá eles: o terreno, a construção, o dinhero para eles darem para os moços o que o “Assunção” dava pras moças. Foi um sonho e foi uma história, Dotor Zezinho. Eu tô chorando porque eles me enganaro: os padre e as freira modernos me enganaro. Eu fui robado. Os padre e as frera me robaro. Isso dói.

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