Nhô Zé e Dr. Zezinho – Tema: Os jovens da província

O texto abaixo foi publicado em setembro de 1987 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

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“NHÓ ZÉ” – Essa juventude que tá por aí é muito bonita, mas eu não estou entendendo ela. Será que num tá na hora de a gente começá a conversá com essa moçada, “Dotor”?

“DOUTOR ZEZINHO”  – Que nada, “Nhô” Zé. Essa moçada não está com nada. É uma geração fracassada que não tem capacidade para nada. Não sabe o que quer! Veja os meus filhos: dou tudo para eles. Carro, dinheiro, as melhores escolas, as roupas da moda. E o que são?

“NHÔ” ZÉ — Acho que nóis tamos falhando, “Dotor” Zezinho. Será que não é preciso conversá mais com eles, dialogá, vê se nossa experiência pode ajudá eles em alguma coisa?

“DOUTOR” ZEZINHO — Nossa experiência? Você está mesmo por fora do mundo, “Nhô” Zé. Esses moços têm mais experiência do que nós. Outro dia mesmo, eu saí escondido com uma gatinha e fiquei bobo de ver as coisas que ela sabe. Uma moça de enlouquecer. Mas… Psssiu ninguém pode saber, tá?

“NHÔ ZÉ — Pois é, no meu tempo a gente também tinha essas aventura mas era tudo meio mais escondido, mais combinado. Agora, ocê, “Dotor” que tá xingando essa juventude é o mesmo que se aproveita dela?

“DOUTOR” ZEZINHO  –  Aproveitar? Que é isso? Se eu tenho dinheiro é para fazer bom uso dele, não é? E tem mais: é o dinheiro que manda em tudo, ou estou errado?

“NHÔ” ZÉ — Acho que ocê tá errado. Qualquer dia vai quebrar a cara. O dinheiro é muito importante, sim. Mas a juventude tem alguma coisa muito mais importante, que se chama ideal. Que tal a gente se aproximar dela?

“DOUTOR” ZEZINHO — Lá vem você, caipiracicabano, com essa conversa de ideal. Isso é coisa do passado. Agora, é aproveitar e já!

“NHÔ” ZÉ — Eu acho que não… Vou tentá conversá com os moços.

Sobre “Nhô Zé” e “Doutor Zezinho”

Elas não são personagens fictícios. Eles existem, estão ao nosso lado, em nosso cotidiano. “Nhô Zé” é o piracicabano assumido, aquele que aqui nasceu ou que para cá veio trazendo a sua contribuição para sermos um povo e uma cidade com raízes verdadeiras. “Doutor Zezinho” pelo contrário, é a negação de tudo o que somos como cidade ou como povo: “Doutor Zezinho” é aquele que, ou sendo nascido aqui ou para cá se mudando, nada tem a ver com a comunidade, pois tem a ver apenas consigo mesmo, o oportunista, o ridículo, o homem que, nada tendo na cabeça, ocupa espaços por ter dinheiro que nem sempre foi conseguido com decência. “Nhô Zé” e “Doutor Zezinho” são ricos e pobres, nativos e piracicabanos por opção, de todas classes sociais, cultos e incultos — com a diferença de que “Nhô Zé” tem senso de comunidade e “Doutor Zezinho” é o individualista sem qualquer senso de decência ou de ridículo.

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