Nhô Zé e Dr. Zezinho: Progresso, “is it money”?
O texto abaixo foi publicado em outubro de 1987 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.
Nhô Zé – Que pena, fui pescá, num pesquei nadas Acabaro c’o rio.
Doutor Zezinho – Pena, nada! Se você quiser peixe, compra na peixaria, mande buscar em Coxim, no Mato Grosso. Não há rio no mundo que possa interromper o progresso.
Nhô Zé – Como num há? Ocê num sabia que a antiga “Light” queria fazê uma usina hidrelétrica aqui em Piracicaba e que o Prefeito e os vereador da época num deixaram porque ia matá o sarto?
Doutor Zezinho – Ignorância, Nhô Zé, ignorância. Mate-se o salto, mate-se o rio, destrua-se a floresta, mas que venha o progresso. Progresso “is money”, bicho.
Nhô Zé – Num é mone não. Progresso é que nem gente, que precisa ir crescendo normalmente. Ocê já pensou se botá braço de gente grande numa criança se botá perna de adulto num minino? Vira monstro, deforma tudo. O progresso quando vem na marra, deforma tudo. Isso num é nem progresso, é ambição de tê a quarqué preço.
Doutor Zezinho – É por isso que você é atrasado, por isso que você é caipira, provinciano. O negócio é ter sempre mais, não importam as pessoas, nem a maneira de ter. Quem discordar, passe por cima!
Nhô Ze – Num penso assim, não. Nunca vi gente ficá rica e feliz se ficô rica matando ou pisando n’os ôtros. Essa gente num dorme, num é?