A lenda da noiva do rio
Conta-se que o rio Piracicaba era belo e calmoso, sem corredeiras, como se fosse um remanso. Às suas margens, moravam pescadores brancos e índios. Viviam em paz. Mas, vinda não se sabe de onde, apareceu uma jovem de “cabelos longos e tão negros que parecia ter-se, numa noite escura, diluído em fiapos mil para adornar-lhe a cabeça. Lábios carnudos, vermelhos como a romã, pernas longas e bem torneadas, olhos verdes como o verde das folhagens. Seu nome, ninguém nunca o soubera, como, também, nunca souberam onde morava e do que vivia.”
Dizia-se que ela, como uma deusa, surgira das águas. Quando não aparecia, pescadores tomavam de suas canoas e iam em busca dela, do som que vinha das entranhas do rio. Forasteiros começaram, também, a aparecer na povoação querendo a jovem misteriosa. Os homens se apaixonavam por ela, as mulheres odiavam-na. Certa manhã, a povoação de Piracicaba acordou em sobressalto. O filho de um dos pescadores, o mais bonito – de “pele trigueira, cabelos de ouro” – havia desaparecido. Procuraram-no nas matas, ao longo do rio, gritaram seu nome. Não o encontraram. Mas perceberam que algo estranho acontecera: havia mais luminosidade no ar, mais perfume, um “ar doce e almiscarado”.
Então, numa certa manhã, aconteceu o horror. O rio corcoveou, o céu se fechou, os pássaros, pacas, veados fugiram, estrondos cortaram os ares. E, de repente, tudo silenciou. O rio ganhara uma cachoeira enorme, espumas e roncos que, de quando em quando, se transformavam em gemidos. Daí, soube-se o que acontecera: o rio, enciumado com o amor da moça pelo belo rapaz, desafiou-o para uma luta sem fim. E rio e homem lutaram pela mulher que ficara prisioneira no fundo das águas. O rio venceu. E foi por isso que ganhou a cor que tem, que não é de barro, mas do “trigueiro do corpo do rapaz”. O gemido do rio são soluços da jovem à espera do seu amor.
Até hoje, quando alguém morre nas águas do rio, sabe-se que morreu em busca da noiva enclausurada. O rio reage sempre. E manda avisos: se alguém morre, a enchente vem. E somente se vai quando outro apaixonado morre em busca da noiva que está presa nas pedras do Salto. Pois foi desse amor que nasceu o Salto do rio Piracicaba.
* Esse texto, do autor, foi publicado, na íntegra, na Antologia do Folclore Paulista, Editora Literart, 1959.
muito sinistro kaaraa!!!!!!!!!!!!!!!!
Muito bom. Adoro contar essa lenda para meus pequenos na escola. Cada vez que conto eles me surpreendem com comentários que me alegram e me estimulam mais a contar histórias.
Muito boa a história. Não conhecia. Amei.
Essa história vai me ajudar com o trabalho de escola
Gostei muito também, vou usar eles adoram histórias sinistras.