Centenário pesadelo com leprosos.

Piracicaba foi uma das primeiras cidades do interior de São Paulo a ter um sanatório para leprosos, o famoso “Leprosário”. Que passou a ter o nome de “Isolamento”. Tratava-se da extraordinária obra realizada por um dos homens santos de Piracicaba, Manuel Ferraz de Arruda Campos, no Bairro dos Alemães, nas cercanias da atual Faculdade de Engenharia da Fundação Municipal de Ensino.

Manuel Ferraz de Arruda Campos tivera um filho com o “mal de Hansen”, doença antes conhecida como lepra ou morféia. Com seu escravo Elizeu, o bom Manuel percorria a cidade recolhendo os doentes, geralmente escravos que eram alforriados se estivessem com a doença. Ser leproso ou estar leproso, em Piracicaba, foi uma marca tão angustiante que as palavras “lazarento, morfético, leproso” se incorporaram a nosso vocabulário de maneira ora agressiva, ora carinhosa.

Passou a existir todo um folclore em torno da doença, que se agrava com a vinda de muitos mendigos de outras cidades. A expressão “sapicuá de lazarento”, significando coisa imprestável, se deve à sacola dos leprosos com a qual pediam esmolas. Mas havia pesadelos. E um folclore macabro.

Os doentes saíam de seus refúgios quase às escondidas, morando, geralmente, em lugares escondidos. Iam de montaria, estendendo o sapicuá ou a latinha para receber alimentos ou moedinhas. A lenda terrível dizia que um leproso poderia curar-se se conseguisse contaminar sete pessoas. Por isso, acreditava-se que os infelizes usassem de todos os recursos para contagiar especialmente crianças: dizia-se que compravam balas, desembrulhavam-nas, chupavam, voltavam a embrulha-las e as entregaram às crianças. Ou que, com um canivete, faziam pequenos cortes nas pessoas, conseguindo esfregar, neles, as suas feridas.

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