Matadouro municipal, grande problema de Piracicaba

Secretário de Obras e presidente do SEMAE na Administração de Cássio Paschoal Padovani, nos início dos anos 70, Lázaro Capellari, por três vezes também prefeito de São Pedro, lançou um livro de memória em 2003, (“O último coronel, 2003). Reunindo casos e fatos ocorridos tanto durante seu trabalho em Piracicaba como em São Pedro, Lazinho dá destaque a pelo menos dois fatos: a questão da fiscalização sobre a carne comercializada no município e a retirada dos escombros do prédio Comurba, serviço realizado sob sua coordenação.

Abaixo, alguns dos trechos que descrevem a situação do matadouro e do frigorífico que abastecia Piracicaba, ainda em 1969, quando Cássio Padovani era vice-prefeito de Salgot Castillon:

… “o maior problema de Piracicaba, que afetava diretamente a população da cidade estava no Matadouro Municipal, que deixou o secretário de Administração (o próprio Lazinho) estarrecido, ao visitar esse próprio Municipal. Verificou-se que as carnes dos animais abatidos lá eram lavadas com água poluída do riacho Guamium, verdadeira barbaridade que os moradores de Piracicaba não tinham conhecimento. Imediatamente foi determinado ao SEMAE, pelo telefone, que estendesse, no dia seguinte, sem falta, a rede de água potável até o Matadouro, se preciso, solicitando a colaboração da Secretaria de Obras… A água do riacho recebia em seu leito mais esgotos residenciais e dejetos que água para lavar as carnes dos bois abatidos no Matadouro Municipal, que depois incorporavam a sujeira, consumida pelos piracicabanos e visitantes, inclusive crianças, moços e velhos.

Mas as irregularidades do Matadouro não pararam por aí. Num mês foram abatidos no Matadouro apenas 100 bois, uma média de 3 ou 4 por dia; o restante era abatido no mato, sem nenhum fiscalização. Quanto aos porcos, a maioria engordada no lixo, o secretário nem quis saber quantos eram abatidos no Matadouro….

Quando Lazaro Capellari levou ao conhecimento do Prefeito o que estava acontecendo, Cássio determinou a contratação de Waldemar Flávio de Godoy Pereira, ex-funcionário federal admitido por concurso, para fiscalizar com rigor a matança no Matadouro Municipal… Cássio não escondia sua satisfação quando Waldemar trazia num vidro grande, cheio de álcool, carne de porco contaminada por micróbios e inutilizada…

De ordem do prefeito, foram expedidos, pela imprensa e pela rádio, diversos comunicados avisando que quanto aos bois abatidos no mato, a carne seria apreendida e os açougues fechados. Ao serem punidos, os prejudicados diziam: esperamos que aconteça o mesmo com o frigorífico Apareno, que vem abatendo mais de 40 bois irregularmente no mato.

Por não ter possibilidade de apreender tamanha quantidade de carne, a Prefeitura levou o fato ao conhecimento do DPA- Departamento de Produção Animal – da Secretaria de Agricultura do Estado, pedindo ajuda para resolverem juntos os abusos que vinham sendo cometidos.

O DPA ficou deveras atrapalhado, pensando até em solicitar auxílio do Exército, através do 5º G CAM de Campinas. Felizmente não foi preciso. O DPA apreendeu, num só dia, 2.086 quilos de carne, correspondente a 15 cabeças de gado, e o prefeito decretou o fechamento do Frigorífico Apareno, localizado no bairro Dois Córregos, que não estava pensando na saúde dos piracicabanos. A carne apreendida foi encaminhada às seguintes entidades assistenciais: Lar Franciscano de Menores, Seminário Seráfico São Fidélis, Santa Casa de Misericórdia, Nosso Lar, Lar Mirian de Nazareth, Lar Escola Coração de Maria, Casa São Vicente de Paula, Casa Cesário Motta, Asilo de Velhice, Casa do Bom Menino e Lar Betel.

O Matadouro, que abatia 100 bois por mês, passou a abater mais de 500 bovinos, com uma média de 20 a 30 cabeças por dia, agora com a carne lavada em água potável.”

Foto: Lázaro Capellari, quando coordenador de obras de Piracicaba (Reprodução de foto da capa do livro: “O último Coronel”, 2003)

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