Minhas memórias de Piracicaba antiga (4)

O dia da foto ficou registrado no verso da cópia: 17/05/1945. Eu ainda faria 8 anos em dezembro. Cena , portanto, com 63 anos virados. Ainda circulavam pelo nosso sangue e preocupações a II Guerra Mundial. O Fotógrafo foi o nosso Professor, o inesquecível Ângelus Honorius Perpetuum a quem, muito intimamente chamávamos de “Professor Perpéto”.

Grande sujeito. Não conseguia entender, à época, o motivo de tanta gente falar mal dele, inclusive uma tia minha que também era Professora. Referiam-se ao Professor com ares de deboche, mais ou menos como quem não acreditava que ele pudesse fazer alguma coisa de útil como Mestre Escola. Hoje eu acredito que as restrições seriam devidas ao enorme preconceito contra os negros, então existente (ele era preto, como o era também o Prof. Frontino Brasil, então Diretor da Escola). Acredito nisso porque foi um dos melhores Professores que vi. Dito hoje soa diferente. Na década de 40 era “normal” os pretos serem alvo desse tipo de preconceito. Por exemplo, nesses anos era tido, até pelos negrinhos, como normal o fato de todos serem arrebanhados nas salas de aulas e irem, em fila, aos sábados, tomar banho no tanques que existiam no páteo. Eram ensaboados, esfregados com pedaços de tijolos e limpos da espuma com mangueira.

Quem dava banho e esfregava era a D.Brasília, servente da escola, às vezes acompanhada do Sr. Theodomiro, servente, caolho, bravo como ele só.

O Professor Perpéto ensinava para valer. Aprendemos álgebra com expressões literais em pleno 2º ano, e ninguém errava nada quando escrevia algum texto. Todos os dias tínhamos aulas de ciências, aritmética, linguagem e, pelo menos alguns dias da semana, história, geografia, desenho e trabalhos manuais. Todos os dias levávamos lições para casa.

Foi a nossa, creio, a primeira turma que sabia distinguir as operações diferentes entre “redação”, “descrição”, “narração”, “composição”. Para as demais turmas, mesmo mais avançadas, tudo se resumia em escrever inspirando-se numa figura.

Aliás, os quadros eram soberbamente elaborados pelo DIP (órgão de controle da Imprensa e Propaganda da Ditadura Vargas), sempre trazendo mensagens positivas, alegres, bonitas, ricas de detalhes otimistas, exatamente como se pretendia que esse tenebroso período fosse guardado pela memória popular.

Nesta foto acima, são recordáveis apenas alguns dos nomes, que eram mais próximos de mim. Os demais não consegui memória para recordar-me dos seus nomes. Vivem, contudo, no coração.

1- Adir Maluf

2- Ari Marconi

3- Laerte (Laertão)

4- Vitti

5- Wladir (eu)

6- Petáin (Petã)

7- Rochelle

8- Coletti

9- Wladyr Steep

10- Agenor Meneguel

11- Durvalino

1 comentário

  1. Linneu Sti]pp em 30/01/2013 às 19:04

    Negadinha do A Provincia

    Tarde! ( com sotaque caipiracicabano ) sem o Boa, que nois de pira gosta de econimizá…

    O numero 9 da foto é o Waldir Libório Stipp, meu irmão…

    Linneu José Liborio Stipp

    Pesquisando Stipp, Buch, Schalch, Antunes, Libório

    Caipiracicabano morando em São Paulo

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