Piracicaba nas cartas de Lilly Stradley, diretora do “Piracicabano”,1915

Lilly Stradley foi a missionária norte-americana que por mais tempo dirigiu o Colégio Piracicabano. Chegando em Piracicaba em 1898, somente retornou a sua terra natal em 1933, tendo se integrado de tal forma aos hábitos brasileiros e locais que ao noticiar sua morte, em 1935, o “Jornal de Piracicaba” lembrou que ela contava “no nosso meio social com inúmeras

amizades, não só no círculo de seus ex-alunos como fora dele, na cidade inteira”.

Entre as centenas de cartas por ela enviadas a Igreja Metodista dos Estados Unidos, destaca-se a abaixo reproduzida, nos anos da I Guerra Mundial falando sobre os reflexos na comunidade e até mesmo sobre a inauguração do primeiro bonde elétrico de Piracicaba :

…..” as nuvens da guerra que pairam sobre o mundo neste ano lançaram sombras muito escuras sobre o Brasil, sobrepujando demais as íntimas relações entre este país e a Europa. Outros males também se abateram sobre nós, e aqueles que confiam na ajuda dos homens tremeram. Eu devo confessar que, quando chegou o tempo de abrir a escola ( o Colégio Piracicabano), quase não tive coragem; mas aqui estamos nós, no final de um ano de sucesso, razão pela qual somos profundamente gratas.

Foto: Diogo/Olhares

Nosso internato não teve mais do que a metade das matrículas, por causa dos tempos difíceis que caíram sobre a classe dos agricultores, que são os que mandam a maior parte dos nossos alunos; mas, em compensação, nosso externato quase dobrou. Há vantagens nisso, porque a comida está excessivamente cara e é difícil manter o internato com alguma reserva (lucro). E o fato de nosso externato aumentar mostra, não somente que nossa pequena cidade está crescendo, mas prova que nosso trabalho é considerado bom pelos que estão próximos de nós. Sim, nossa cidade está crescendo e nós estamos muito orgulhosas de ter inaugurado neste mês o primeiro bonde elétrico.

Claro que o conceito que nós temos em Piracicaba é devido ao bom trabalho feito pelo nosso grupo de professores. Não temos somente os missionários – e a professora missionária, Miss Alexander, é muito confiável em seu trabalho – mas nós temos também um excelente grupo de trabalhadores brasileiros, os quais eu não posso elogiar demais. O trabalho que eles dedicam à Igreja e à escola é responsável e inteligente. Todos os nossos missionários e todos os nossos professores brasileiros que vivem na escola tomam parte ativa no trabalho evangélico na cidade.

Nossas finanças conseguiram fechar o ano com pequeno lucro em nosso favor. Nossa matrícula chegou a 169 alunos e nós temos 29 internos. Uma coisa que impressiona aqueles que estudam ou trabalham é a regularidade deles. Eles têm muito poucas faltas ou atrasos e a lista de chamada de fevereiro é a lista de chamada de novembro – quase nenhuma diferença.

Outra coisa significativa é o pequeno número de atrasos nos pagamentos.

O número de membros da Igreja (Metodista) é pequeno (doze), e sempre varia conforme o número de internos. Uma grande porcentagem de nossos alunos é aluna da Escola Dominical, e muitos dos rapazes e moças que vêem até mim e Miss Howell para aulas de inglês, e aqueles que vêm para aulas de música, estão começando a freqüentar os trabalhos da Igreja. Todas as aulas de Inglês são dadas por Miss Howell e eu, e isso nos dá bastante trabalho; mas é também a maneira mais efetiva de ter contatos com a classe de gente que nós estamos ansiosas para encontrar. O mesmo pode ser dito do Departamento de Música.

Nossos exames finais são considerados bons e uma classe de cinco bem preparadas jovens está pronta para trabalhar…”

(Publicada na revista Woman’s Missionary Council, em 1915)

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