Bons tempos de motoristas

Zulmiro Vitorino de Almeida relatou à A Província, no ano de 1988, o tempo em que via os fregueses disputando uma corrida de taxi. Foi nos anos 50, bons tempos aos motoristas de praça! A reportagem foi feita por Angela Furlan, para o Semanário A Província, edição de 1988.

Zulmiro foi um dos mais antigos motoristas da cidade e lembrou-se do começo:

Ele viajava muito. Era motorista de caminhão e transportava cana e pinga pra o Paraná, trazendo madeira. Um dia começou a trabalhar provisoriamente com o irmão Arlindo, no ponto de táxi que ficava próximo ao edifício Comurba, que desabou na década de 60. E não parou mais!

A praça era boa, não parava – comentou. Segundo ele, os fregueses faziam ‘briga’ para pegar um táxi e os mais espertos esperavam até dois quarteirões antes, porque sabiam que no ponto teriam que disputar a vez com dezenas de pessoas. “Às vezes ficávamos até uma hora sem aparecer no ponto”, contou.

Como motorista de táxi, ele começou com um Skoda azul, ano 49, mas com o tempo comprou um mercedinho (biriba), uma atração na época. Com ele, levou muitas noivas à igreja. Depois comprou um Dauphine, Gordini, Aerowillis e Opala, até chegar no Chevete.

Mas motorista de praça antigamente era imponente, bem alinhado. Barba feita, punhos da camisa fechados, barbatanas nos ombros, bolsos da camisa abotoados e sapatos engraxados, brilhando. Na cabeça, o tradicional boné, a marca registrada do profissional. A gravata que usavam era de plástico, para evitar que “nos enforcassem em caso de assalto” – explicou Zulmiro.

A gentileza era imprescindível ao bom atendimento. Por isso, assim que o freguês se aproximava, cumprimentava o motorista, tirava o chapéu e aguardava que a porta gentilmente fosse aberta. Para descer, o ritual se repetia. O passageiro nunca abria a porta. Esperava que o motorista o fizesse.

Taxímetro não existia. Assim, a cidade era dividida por setores. Do centro até a avenida Independência, ou uma distância equivalente a• este trajeto, eram cobrados dez mil réis; passando o cemitério da Saudade a ocorrida subia para 15 mil réis e já no Piracicamirim o preço estipulado pela Prefeitura Municipal era de 20 mil réis.

Muito trabalho

As corridas eram tantas que os motoristas chegavam a trabalhar até 20 horas por dia. Resultado, tinha dia que iam fazer corridas meio sonados, como aconteceu várias vezes com Zulmiro. “De tanto sono, a gente pegava algum desvio e, quando achava que estava chegando no local solicitado pelo freguês, percebia que estava de volta à cidade. Isto acontecia muito quando íamos para Charqueada, por exemplo” – observa.

As consequências caíam, sem dúvida, sobre o passageiro que acabava se atrasando para o compromisso ou perdendo o trem, como aconteceu várias vezes.

Zulmiro relatou ter saudade do biriba, das viagens que fazia a Pirapora. “O chão do carro era de tábua, o que permitia a entrada da poeira, já que as estradas eram de terra. Quando as pessoas desciam, deixavam a marca do corpo no banco do carro” – contou.

Muitos, segundo seu irmão Arlindo, levavam uma toalha para “bater nas costas dos fregueses e tirar a poeira”. Isso quando não chovia. “Muitos passageiros tiveram que descer e empurrar o carro principalmente nos arrabaldes da cidade. Se quisesse ir pra frente tinha que ajudar” afirmou.

De Pirapora, ninguém voltava sem uma foto ao lado do carro e do motorista. Era foto praticamente obrigatória.

Imprevistos eram constantes e já não irritavam os passageiros. Um dia, Arlindo fez uma corrida até Santa Bárbara e o motor do carro simplesmente caiu no meio da rua. “E dai? O freguês teve que procurar outro carro e eu perdi a viagem” falou.

A segurança

A segurança era total. O motorista que se sentisse muito cansado não hesitava: parava o carro em qualquer canto para tirar uma pestaninha. Um dia Arlindo acordou em frente à Igreja Catedral. Ele dormiu dentro do táxi e os companheiros acabaram empurrando o seu carro até em frente à Igreja.

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