Fernandes, um goleiro que segurou até Pelé

Ele foi o goleiro que mais jogou no XV. Praticamente foram 13 anos sem sentar num banco de reservas. Defendia a camisa, a torcida, com raça e amor próprio.

Oswaldo Fernandes aprendeu a “manha” de segurar a bola em São Paulo, cidade onde nasceu. Desde moleque percebeu que “seu negócio” era mesmo a bola. Do time juvenil do São Paulo, passou para o infantil e, quando se deu conta, já preenchia a vaga no profissional daquele time. Tinha apenas 16 anos de idade.

Para Fernandes – como era conhecido – Piracicaba não aconteceu por opção. “Fui emprestado pelo João Guidotti, que na época além de presidente do XV, era conselheiro do São Paulo. Acabei ficando; isso foi no ano seguinte que o XV subiu para a primeira divisão, em 1950.”

O ex-goleiro comentou que antigamente os times eram mais camaradas. Era comum se emprestar jogador quando um time precisava, para uma decisão.

Defendendo Pelé

Fernandes acredita que o futebol no ano de 88 – o jogo em si – já não era tão violento como antes, mas também não existia a garra de antes. O ex-goleiro contava com 12 fraturas espalhadas pelo corpo e todas, afirmava, “de brigar pela bola”.

Da vida no gol, Fernandes trazia a lembrança das bolas defendidas, quando chutadas por Pelé. Mais que isso, o que contava para ele era a simplicidade daquele jogador em campo. “Uma das passagens que mais me marcou foi quando o Pepe, do Santos, chutou uma bola, e eu fui tentar pegar, e a bola foi para fora. O Pelé estava embaixo de mim, no rebote e me deu uma bela de uma moral. ‘Isso é coisa que acontece.’ O jogo ficou em zero a zero.”

Ainda de Pelé, Fernandes recordou de quando foi considerado o goleiro menos vazado, e Pelé, o artilheiro de um campeonato paulista.

Cabeção (2º goleiro menos vazado), Pelé (artilheiro), Silvio (2º artilheiro) e Fernandes (o goleiro menos vazado), recebendo a Taça Brasília.

Fome de Bola

Para Fernandes, o futebol naquele ano (1988) já era mais mecânico, principalmente em relação ao treinamento. “Para treinar um goleiro precisa fazer um jogo psicológico com ele. A sua ferramenta é a bola, e não correr na pista. Tem que dar a bola pro goleiro todos os dias nos treinos. Na véspera de jogo, tira a bola dele. Na hora da partida, ele ta com fome de bola”.

“Meu maior desejo é ser treinador de goleiro. Queria ensinar a pegar a bola, não socar a bola.”

Depois de 13 anos no gol do XV, Fernandes afirma ter saído por motivo de descontentamento, em 1968. “Foi quando entrou D’Abronzo, com ideias novas e não combinava com as nossas. Ele não entendia nada de futebol.”

Naquela época o goleiro já era sócio do restaurante Mirante, e apontou essa como outra causa por ter deixado o futebol.

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