Filho do pintor?

Na reportagem de “Piracema”,em 1966, as cartas de Maria Laura são assinadas como “bbb”. Numa delas,Maria Laura revela todo o seu desespero diante da distância e da ausência do amado.Escreve:”Está chegando o dia do martyrio para mim, separar-me de vosse, eu fico desesperada com isso, vosse não pode calcular em que estado fico; me vem mesmo desespero, eu podia viver só na tua companhia descançada dessa gente eu que não posso mais suportar.”

E outra, reveladora, mas que não mereceu, nem mesmo no processo, maiores interpretações:”Agora, quando te verei? Vosse marque quando vem para eu te esperar porque a esperança de ter me consola da grande dor da separação. Está com seis anos a tua filhinha, eu sinto ver ella na edade de receber educação que ella não havia de ter tão boa tendo um pae como ella tem e não aproveitar(…)”

E encerrava:”Adeus! Adeus! Já não posso mais, eu quero te ver breve aqui meu Deus! Vou te esperar logo, quero demais te ver.Adeus, abrace e beije a tua eterna e terna bbb. Vai com pingos de lágrimas de saudades.

A carta da mort

A carta que Vicente de Azevedo transcreve foi escrita e enviada por Maria Laura a Almeida Júnior quando ele se encontrava na Europa:”Meu saudosíssimo O d’alma. Quero aproveitar um dia que tenho para ver se posso fazer-te chegar às mãos nesse mundo tão diferente, as minhas pobres notícias que com o coração desesperado de imensores rancores (sic) vou te dar.Hoje, 34 dias da tua partida, e eu sem a mínima notícia de ti! Me prometeste dar notícias,até hoje, não calculas este triste coração como sente-se desesperado de mil cuidados,mil saudades,nem tenho expressões para te dar, todos os dias,de 6 a 8 dias para cá vou como louca esperar tua carta e nada,por que não escreves?

Peço-te pelo amor de Deus, dê noptícias, é uma tarefa para você, bem sei, mas calculo que é essa a única tranqüilidade e o único desabafo de um coração oprimido, meu Deus, sem uma notícia tantos dias! Outrotanto não te acontece, talvez, que logo que chegaste recebeu a que ele te escreveu.

Dê notícias como passa de saúde, que é todo o meu interesse, que por ela me sacrifico a todos os sofrimentos,tenho pedido a Deus e estou certa que tens passado bem e voltarás são. Felismente uma má notícia tenho a te dar dos ídolos, estão fortes e bem dispostos,a Ozinha de nossa alma cada vez mais interessante e ativa, tenho muito dó dela, não passa um dia que não fale em você, que não repita os brinquedos que muitas vezes são ouvidos com chuveiros de lágrimas que não posso contar, sendo uma expressão tão igual que parece que herdou tudo, tudo, do saudoso e querido…. O outro está muito ativo e bonitinho.

Meu Deus! Agora que me vejo com quantos milhões de léguas separada, passando pelos cuidados que passo com a falta de notícias, só há de consolarme a visita destes anjinhos, fazem-me uma recordação tão dolorida que não posso conter as lágrimas de saudades a todo o momento, é bom que desabafo-me. Quando vence ainda tanto tempo, meu Deus! Venha logo, ou não posso mais, Deus me recompense com o que tanto aspiro que darei por muito feliz os sofrimentos que tenho.

Ela (NR: a cunhada) foi a I.(NR: Indaiatuba) e eu fiquei sozinha alguns dias, dei-me por feliz não ter ido, porque só desejo a solidão, quero estar só para me recordar sem estorvo,de quem é meu tudo neste mundo, quando durmo sonho e sem poder e sem saber calcular nem ao menos as horas que deve ser lá esta (sic) que passo a pensar em ti…

Quero demais poder fazer esta, que só d´aqui a 20 dias poderá receber, meu Deus,que distância!!! Receberei notícias esta semana? Já desespera a demora. As recordações, as saudades não poderia dizer em toda a coisa de papel – vai somente para desabafar um pouco este teu pobre coração, que sentiu-se tão aliviado ao fazer seguir esta, quando receber ela alguma notícia tua eu ver que você recebeu esta, ponha um risco pequenito com a pena no canto, já eu sei que foi recebida. Tenho sofrido demais, meu Deus! – tudo é triste, tudo é feio, estes dias ao menos vou apesar tranqüila (palavra ilegível) foi ao júri e estou só aqui neste rancho, aonde em todo o canto tem uma recordação. Conte quando vem mesmo, nem gosto de pensar nos dias que faltam,faço contas todos os dias, tenho uma pressa que passem os dias que não calculas. Meu Deus já se foi o papel!!! Não me esqueço nem um dia ao acordar e a noite ao deitar-me da tua recomendação sobre os ídolos, que papel (?) o coração ainda está transbordando de saudade. Mas o que fazer?

Aceite mil abraços e beijos dos teus queridos ídolos e aceite tudo, tudo quanto pode haver de afeto, saudades loucas, tudo enfim da tua eterna 666.”

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