Jardins do passado

O texto abaixo foi publicado em setembro de 1987 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

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O Jardim Central e ou Jardim Público e ou Praça José Bonifácio teve o seu primeiro estudo para a reforma no governo de Jorge Pacheco e Chaves (+) (1943).

Elaboraram-no Jacques Pilon e Ulhôa Cintra. Este até ganhou o seu nome numa rua.

No mesmo governo (1943) o professor Phelippe Westin Cabral de Vasconcellos fez um outro estudo, cujo desenho em vários tons verdes é de autoria do artista plástico Angelino Stella (+), que o assinou.

As palmeiras, em frente ao “Politeama” foram derrubadas por um mulato claro, então da “Cia. Paulista de Força e Luz”, seu nome atuar:

No passeio, que dá à esquinao do demolido “Hotel Central” fora deixado em seu caminho um “flaboyant”. Os estudantes de Agronomia derrubaram-no, em 1943.

A arborização das peças arbóreas ocorreu na gestão de Bento Luiz Gonzaga Franco (+) (1944/45).

Em 1941, o prefeito José Vizioli (+), pedira ao professor Rosário Averna Saccá (+), para que, como fitopatologista, vindo da Sicília há muitos anos, examinasse todas as árvores. E fê-lo. O Herling (+), da pinturaria da PMP, marcava com um xis (x) as que o Saccá examinara, anteriormente, o material no laboratório de seu departamento e as considerava doentes.

Havia um pau-dálho à Rua São José, fronteiriço à Praça 7 de Setembro, cuja denominação, o prefeito Francisco Salgot Castillon mudara para Praça José Bonifácio, em virtude do não prosseguimento da Rua São José.

À sua sombra ficava o carro do Sr. Jacob Cristal. O pau-dálho cresceu muito. E fazia os seus galhos chegarem à “Loja Internacional”, de Demosthenes Abramides (+), grego de nascimento, árabe no falar.

Num temporal violento o pau-dálho rachou. Era uma das poucas árvores que não recebera o xis (x) com a cal branca. Caiu no carro.

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Jardim público central, lado par. Esquina com a rua São José, ainda não seccionada. Dá para ver ainda parte de “A Nova Aurora”, o velho “Polytheama”. (1939)

Os passeios eram concêntricos. Exceto o exterior, que foi traçado retangularmente.

No centro havia o tanque ovalado, repleto de peixes vermelhos. O repuxo foi doação de Júlio Conceição (+).

No coreto, em frente à ex-“Casa Passarella” tocavam as bandas: a “União Operária”, dirigida por Carlos Brasiliense Pinto, Rafael Pero (dr.) (1932); “Capitão Lorena”, sob a regência de Genaro Donadio (1932), “Lira Guarani”, “Carlos Gomes”, “Luiz Dutra”, “Pedro Sérgio Morganti” e “Azarias de Mello” (1926).

Os avós e os netos ficaram no primeiro círculo do Jardim, os noivos no segundo e no passeio exterior os namorados. As mulheres quadravam pela esquerda; os homens pela direita.

No passeio do calçamento de paralelepípedos os negros transferiram-se para a quadra da Praça José Bonifácio, Rua Moraes Barros, Rua Governador Pedro de Toledo e Rua São José, mas em cima das calçadas.

Em frente ao “Politeama” formou-se a “Calçadinha de Ouro”, num ir e vir das normalistas. O calçamento que ladeiava o “Jardim”  ficou conhecido, por “Praínha”. As moças passeavam de sandálias e ao passeio externo chamou-se de “Fio 12”, ocupado pelas operárias da “Boyes”.

Com o fechamento da Rua São José, com a ampliação da Praça — o “footing” foi cessando e transferiu-se para a calçada do ex “Plaza”, que caiu em 06 de novembro de 1964. É claro que a televisão, já em 1950, segurou o cai piracicabano em casa.

O jardineiro era o Antônio (+), cego de um olho e em cima deste uma tremenda cicatriz dizia-me, que fora ele acidentado.

Forante os banhos no tanque, que os “bichos” da “ESALQ” ali tomavam; do passeio em automóvel promovido pela falecida Bige Morganti, entre árvores e bancos; do desfile, em motocicleta, inteiramente nu, que fizera o agricolão Baeta Neves, ex-deputado federal e da ex direção nacional do PTB — aquele tanque tivera uma importância fundamental nos incêndios ocorridos na Matriz de Santo Antônio (1935) e na sede social do Centro Agrícola “Luiz de Queiroz” (1935), cujo prédio fora de meu pai. Muito o “Jardim” cresceu em memória, porque o foi um local modificável com frequência.

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Jardim público central, lado esquerdo, vendo-se: “O ponto”, do velho Vollet; a “Padaria Ribecco”, a primeira “Brasserie”, o Bar e Restaurant “Giocondo”, e o ponto de táxis. (1928/1929)

REPUXO

As gerações nascidas a partir de 1943 não conheceram o “Repuxo”, do Jardim (Público) Central, instalado no tanque do mesmo, em 1893, doado por Júlio Conceição, como já lhes escrevi acima.

Este imenso senhor é o mesmo, que doou meia quadra à “Sociedade Beneficente Real Espanhola”, que hoje leva o seu nome. A área inicial foi picada, retalhada, loteada há 42 anos, restando só o local onde ela se encontra.

No “Repuxo” havia uma lápide com a legenda da doação. Ele tinha quase 11 m de altura, de cuja extremidade jorrava a água, que caía num primeiro copo menor, deste para o segundo (médio) e no terceiro, já grande. Daqui a água caía no tanque ovalado.

Era uma peça toda de mármore inteiriço de Carrara, Itália. À época deveria ter custado uma fortuna.

A reforma do Jardim Público iniciada com o Prefeito Jorge Pacheco e Chaves (1943), continuada por Bento Gonzaga Franco (1944) — o Repuxo foi desmontado e levado ao terreno da Hasta Pública — atrás do Corpo de Bombeiros n.0 02 — à Av. Independência.

No governo de Samuel de Castro Neves, em (1952/1955) o Repuxo foi despachado pelo “Expresso Rio Claro” a São Paulo, para uma chácara de um particular na Estrada Velha de Cotia — Sorocaba. Hoje, encontra-se em Araçatuba.

Levantei o problema no Pequeno Expediente da Câmara (1952/1956), cuja falação não poderia ser vetada (só aparteada) e “desanquei o pau” na imoralidade, ilegalidade etc… Apresentei requerimento denunciante e fui vencido, porque era da bancada da minoria.

Soube que no local do despacho da peça tinha estado o falecido artista plástico Alberto Thomazi, que jamais protestou por ligações com o irmão do recepiendário.

Nem que não o fosse, não teria posto a “boca no trombone”. Querem um exemplo: calou-se quando da caiação da Sociedade Italiana de “Mutuo Soccorso”, em 1975. Ele ficou mudo mesmo!

Toda a obra plástica — as paredes altas dos lados, de frente, do fundo, do teto — foram do gênio artístico de seu pai Mário Thomazi, em 1900.

Alberto Thomazi não deu um pio!!! É claro, de protesto.

 CORETO

O coreto sempre destinou-se às apresentações das corporações musicais. Houve vezes, que nas proximidades das eleições servia como palanque dos tribunos.

Na parte inferior os jardineiros guardavam as ferramentas. Havia uma escadinha de acesso. A ferragem de proteção era fundida, toda trabalhada. De forma oitavada, aberta a sua parte superior.

A cúpula tinha a forma de quiósque, com um galo no topo, as letras dos pontos cardeais, com uma seta. O galináceo rodopiava com o vento, determinando o N (Norte).

Sempre foi pintado de cor verde. Mais ou menos como a gama das árvores. Então, com a iluminação de postinhos e lâmpadas míopes, tudo se misturava.

Os bancos e as estantes eram toscos. Uma lâmpada no teto iluminava os músicos.

O coreto da Praça José Bonifácio era de 1893, no primeiro Jardim Público Central. O que teve a ajuda de Luiz de Queiroz, de Júlio Conceição.

Foi demolido em 1943 no governo de Jorge Pacheco e Chaves, Havia um outro coreto, irmão gêmeo daquele, mas chantado no “Jardim da Baroneza de Serra Negra” ou “Jardim da Ponte”,

À primeira reforma desse (Governo Luciano Guidotti — 0 de 19561959) foi ao chão.

Em praças eram os únicos dois (02). Haviam os existentes nos locais fronteiriços às igrejas dos bairros rurais. Destinavam-se às retretas e aos leiloeiros.

É importante o coreto. O fundamental é ajudar, decisivamente, as únicas corporações musicais, que lutam titanicamente para sobreviverem.

As bandas da Usina Monte Alegre, de Pompéia, de Paraisolândia, “União Operária” e “Lira Guarani”. Levei à “XII (JD)”, em São Paulo, a terceira, onde se apresentou com Rita Lee, por 20 (vinte) dias, mais o “Centro de Folclore de Piracicaba” atuante, jamais estiveram no coreto do Jardim Público Central.

QUADRAR

Em todos os feriados nacionais e em os domingos “quadrava-se” o Jardim Público Central. E o que, ao depois, se chamou “f-footing”4.

Fazia-se em torno da quadra da Praça José Bonifácio. Iniciava-se às 19 horas. Encerrava-se às 21 horas. Os moços andavam pela direita, anti-horário. As moças a favor da marcha dos ponteiros do relógio.

As badaladas das 21 horas, pelos sinos da Matriz de Santo Antônio, esvaziava-o. Simultaneamente os 03 (três) bondes: o da Vila Rezende, o da Paulista, o da ESALQ apertavam, estrindentemente, as suas campainhas. Os moradores daqueles bairros corriam para pegá-los.

Os do “Bairro Alto” (Cidade Alta) íam a ele, pela Rua Moraes Barros. Ninguém atravessava as pontes da Rua Prudente de Moraes e da Rua São José. A partir desta havia o meretrício, cujas casas alcançavam até o atual prédio da “União Municipal Espírita”.

As bandas musicais é que animavam o quadramento. Em os feriados nacionais ao toque do Hino Nacional Brasileiro, todos os sentados (interior do Jardim) levantavam-se e os quadrantes posicionavam-se parados. Todos descobríamo-nos. Palhetas e borsalinos às mãos. Ao final, vinha uma estrondosa palmeação. O quadrar morreu em 1942.

Os “fordinhos” deixavam os pontos de automóveis, para a andança das pessoas.

Os negros, já escrevi acima autoseparavam-se. Andavam pela Rua Moraes Barros, Rua Governador Pedro de Toledo, Rua São José e pela Praça José Bonifácio.

A função do “quadrar jardim” era para “arranjar” e/ou encontrar uma namorada.

Havia um hiato: à saída do velho “Politeama”, às 20,50 horas, para se poder pegar os bondes.

O mesmo ocorria com o “Cine São José”. Entretanto, o “Teatro Santo Estevam” ia além das 21 horas, quando havia peças teatrais montadas.

As gerações setuagenárias conheceram as suas esposas na Praça Central e/ou Jardim Público Central.

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A “Loja Internacional”, de Demosthenes Abramides; o escritório de advogacia de Virgílio Fagundes. (1943)

 

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Jardim público central. A Igreja da Matriz, projeto de Miguel Archanjo Benício da Assumpção Dutra. O repuxo no centro. (1893)

 

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Jardim público central: a sua cerca, a igreja matriz (de Miguelzinho), o Hotel Central e a casa, às esquerda e aos fundos, onde se escondera a Regente Feijó.

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