Malvadeza contra Bentão elegeu Luciano

Bento Dias Gonzaga – filho do ex-prefeito e líder politico Luiz Dias Gonzaga – foi um dos mais sagazes políticos de Piracicaba, ainda que tenha sido relativamente curta a sua carreira. Deputado estadual por diversas vezes, Bento Gonzaga, o Bentão, era pessoa afável, estimada, de simpatia contagiante. Mas trazia, como filosofia política, praticamente todos os cacoetes do antigo “coronelismo”, do estilo populista tão a gosto das pessoas simples da época. Ou de agora também, sob a batuta de ditos pastores?

Bento Dias Gonzaga e o pai, o patriarca Luiz Dias Gonzaga, conseguiram harmonizar-se com as mais conturbadas áreas políticas, como as de Adhemar de Barros e de Jânio Quadros, nos anos 50. Bento ficava com Jânio – ainda que tivesse sido “adhemarista” – e o pai ficava com Adhemar. Por aí. E foi Bento quem conseguiu a primeira estrada asfaltada ligando Piracicaba à Anhangüera, a estrada velha de tantas curvas que passa por Caiubi, em direção a Santa Bárbara d´Oeste. Dizia-se, na época, que o traçado fora conseguido para impedir que a Viação Cometa chegasse a Piracicaba, permitindo-se que a Viação Piracicabana – então dos Gianetti, um dos quais sogro de Bento – mantivesse o monopólio da concessão. De qualquer maneira, foi Bento Dias Gonzaga quem conseguiu, com o Governador Jânio Quadros, o asfaltamento da estrada, anda em meados dos anos 50.

O ciclo de liderança política mantido pela dupla antagônica Luiz Dias Gonzaga-Samuel de Castro Neves foi interrompido com a vitória de Luciano Guidotti a Prefeito Municipal, no quadriênio 1956/59. Luciano vencera Luiz Dias Gonzaga e, a partir de então, os Gonzaga e os Guidotti se tornaram adversários terríveis. Bento Dias Gonzaga era deputado estadual, o que permite avaliar o que foram os atritos e as confusões políticas naqueles anos.

A segunda candidatura de Luciano Guidotti – após o período da UDN, com Salgot Castillon e toda uma sucessão de vice-prefeitos que assumiram – aconteceu em 1963, ano conturbado que precedeu o fatídico 1964 do golpe militar. E lá estava para enfrentar Luciano Guidotti exatamente o Bentão, Bento Dias Gonzaga, o terrível e temível Bentão, mestre na arte da política de bastidores. A candidatura de Luciano era a favorita, mas Bentão dava trabalho, ganhando espaço com líderes sindicais e tendo o apoio de um líder popular extraordinário – um dos maiores dos tempos modernos, com carisma apenas igualado por João Herrmann Neto – que era o ex-prefeito e então deputado Salgot Castillon. A campanha eleitoral ferveu. E aconselhado por seu partido e amigos – em especial pelo político e empresário Lázaro Pinto Sampaio – Luciano Guidotti foi viajar para a Europa. Temia-se que, explosivo como era, Luciano fosse provocado por Bentão e reagisse de maneira prejudicial à campanha.

Pois bem. Será estranho às novas gerações falar-se em zona de meretrício e políticos. Mas, em Piracicaba, nos anos 60, a zona de meretrício – comandada por Ivone( Ruth) Mansuir – era um local de encontros políticos, de intelectuais, de boêmia. Muitas decisões políticas eram tomadas na zona. E, entre políticos, não era estranho que as noites terminassem lá, no Jardim Brasil, próximo de onde está, hoje, a sede do Jornal de Piracicaba. E Bentão, com sua equipe, estava no local numa daquelas noites. E estourou uma grande briga, quebra-quebra geral. O saudoso Cabo Trevizan – que era responsável pelo policiamento de um dos postos da Paulicéia – avisou a reportagem da “Folha de Piracicaba”, da qual eu era diretor, a respeito do rififi. Apavorados, os políticos fugiram, quase todos eles embriagados.

A malvadeza que fizemos com Bentão foi um martírio diário. Encontramos a foto de um atleta de luta livre – de sunga, coxas imensas, gordíssimo – e começamos a publicar pedacinhos da foto: as canelas, os joelhos, pedaço das coxas, braços, com a pergunta maliciosa: “de quem são essas pernas, de quem são essas coxas?” Tudo para provocar. Bentão quase enlouqueceu. Era uma malvadeza. E pegou. A candidatura de Bento esvaziou e Luciano Guidotti, que já era favorito, venceu por larga margem de votos. Fazer política era, já naqueles tempos, também a arte de jogar cascas de banana no caminho do adversário.

De qualquer maneira, pode-se dizer que Bento Dias Gonzaga, ainda vivo, foi uma personagem política adorável. E foi ele, nos anos 70, quem aceitou uma sublegenda do então MDB que, na soma dos votos, acabou dando a vitória à legenda, elegendo o mais votado dela, o jovem Adilson Benedicto Maluf à Prefeitura Municipal.

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