Memória – Centro Cultural Martha Watts (10)

Reproduzimos, em capítulos, um pouco da história da missionária metodista norte-americana Martha Watts e do Colégio Piracicabano – trajetórias que influenciaram a educação do Estado de São Paulo, no final do século XIX. Este conteúdo foi reunido na publicação que comemorou a inauguração do Centro Cultural Martha Watts.

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A barbarense Rose May Dodson Trochmann, ex-aluna do Colégio, doou ao Centro Cultural Martha Watts guardados de um baú de sua avó Rosa May Keese, que se formou em 1906, com Ida Schalch.

O passado revisitado

Barbarense, Rose May Dodson Trochmann tem dedicado seu tempo mais à fazenda em Mato Grosso do Sul, que à casa em Santa Bárbara d`Oeste. Nessa segunda quinzena de junho, no entanto, ela retornou à cidade natal para esperar a inauguração do Centro Cultura Martha Watts. A obra revitalizou o prédio onde ela fez o magistério de 1960 a 1962, como interna, assim como seu pai e sua avó. E May participou ativamente desse processo: ela foi uma das principais doadoras de objetos de família para a recriação de alguns dos antigos ambientes.

Marcamos a entrevista no próprio Centro Cultural, e May foi fotografada nos espaços internos do prédio, que ela ainda não tinha visto já quase pronto. Acompanhar May por esse passeio rumo ao passado foi suficiente para responder às perguntas que se seguiriam em nossa conversa: o encantamento e a emoção de reconhecer os espaços, reencontrar as fotos e os objetos de sua família, guardados através de gerações, foram revelados em sua tão expressiva vivacidade. Senti que já estava próxima de compreender a questão que me movia desde o começo da produção desse caderno: qual a importância de resgatar a memória? “É a história da sua vida, sua própria identidade” – me diria ela.

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A cozinha do Colégio Piracicabano nos anos 40, em foto de Filleti.

Baú de enxoval do Colégio

Sua avó, Rosa May Keese, diplomou-se em 1906, na segunda turma de professores formada pelo Colégio. Ela foi colega de Ida Schalch, que seria a professora de pintura do “Piracicabano” até 1961. Quando, no entanto, chegou a vez de seu pai, Charles Keese Dodson, ainda não havia o internato masculino. Ele e um amigo ficaram hospedados na casa do diretor, até que o alojamento ficasse pronto, em 1934. C. K., como era conhecido, foi contemporâneo do empresário Raul Coury, também entrevistado nesta matéria. May conta que ainda tem o baú preparado pela avó para guardar o enxoval de seu pai nos anos de internato, inclusive com a relação das peças de roupa preparadas.

Hoje, May é professora aposentada. Na década de 60, a ex-aluna gostava muito de esportes e também estudava piano. Ela podia ir, sozinha, até a casa da professora na cidade. Era uma exceção e “um privilégio”, em função do fato de estar mais adiantada do que as demais alunas do professor de música do Colégio, o maestro Germano Benencase.

A presença dos meninos para jogar bola era uma das diversões daqueles tempos. Além da paquera, no entanto, o interesse também era gastronômico: “eles nos traziam pastéis do mercado, além de melancia”.

O restauro: surpresa

 Depois que finalizou seus estudos, May nunca mais teve contato com o Colégio. Até que foi procurada para doações para a montagem do Museu. “Foi muito gratificante. Minha avó sempre guardou muitas coisas; depois, minha mãe e eu continuamos a zelar por elas. Agora, senti que chegou a hora de dar outro destino a esse material: meus pais e irmãos não estão mais vivos, e, no Museu, acho que as gerações futuras, os meus descendentes, terão oportunidade de ver isso tudo. Em casa, as coisas ficariam dentro de uma gaveta, de um baú, até prejudicadas em sua conservação.”

May se surpreendeu com a “maravilha” que encontrou: “Eu não pensei que seria tanto! Todos estão de parabéns. O brasileiro, de uma certa maneira, não tem o cuidado de preservar a história e, aqui, isso foi feito. O prédio recuperou suas características, o que ajuda a conservar mais a história, a tradição.” Diante dos vários museus que conheceu pela Europa e Oriente Médio, ela conclui: “Este é de primeiro mundo, e de um jeito muito aconchegante”.

Acompanhe outros capítulos da história da missionária metodista norte-americana Martha Watts e do Colégio Piracicabano, seguindo nossa hashtag Memória Martha Watts.

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