Memória – Centro Cultural Martha Watts (9)
Reproduzimos, em capítulos, um pouco da história da missionária metodista norte-americana Martha Watts e do Colégio Piracicabano – trajetórias que influenciaram a educação do Estado de São Paulo, no final do século XIX. Este conteúdo foi reunido na publicação que comemorou a inauguração do Centro Cultural Martha Watts.
Um tempo decisivo
“A passagem pelo Colégio Piracicabano foi decisiva em minha vida: grande parte do que eu sou, hoje, devo a esse início. Se eu fosse educada em meu ambiente de origem, eu não teria feito o que fiz, chegado onde cheguei.” E Guiomar Namo de Mello, de fato, já fez bastante. Ex-deputada, ex-secretária municipal de Educação de São Paulo, ela é, hoje, diretora da Fundação Victor Civita (organização sem fins lucrativos do Grupo Abril) e membro do Conselho Nacional de Educação.
Sua mãe nasceu em Monte Alegre, mas a família de Guiomar mudaria para São Paulo, anos mais tarde. Sua madrinha de batismo continuou na cidade e, como lavadeira do Colégio, conseguiu uma bolsa para os estudos da menina de 11 anos. Guiomar viveu interna no Colégio durante os anos de 1954 e 1958.
Entre as lembranças daqueles tempos, estão as atividades do grêmio estudantil e as festas organizadas pelos alunos, as garden parties, festas caipiras, recitais de poesia e música: “A escola nos dava oportunidade de desenvolvimento intelectual, cultural e também social, como aprender a administrar a relação com as pessoas, desenvolver autonomia. Tenho tudo muito vívido em minha lembrança”.
Gelatina com pinga
Um dos lugares mais marcantes do prédio foi o barracão de tijolo no centro do pátio do recreio, alegrado pela presença de um jacarandá mimoso, de flor azul. Era o ponto de encontro dos alunos. E ela não se esqueceu das aulas de culinária. Em entrevista ao “Acontece”, boletim informativo da Unimep, edição de dezembro de 1997, ela contou: “Até hoje me lembro das receitas das aulas de economia doméstica, ministradas por D. Jair: aprendi a fazer pé-de-moleque e uma gelatina com pinga. Éramos nós que fazíamos os doces vendidos nas festas do Colégio. E, embora ainda fosse década de 50, D. Jair também nos dava aulas de educação sexual”. Hoje, Jair de Araújo Lopes dá nome ao Museu do Centro Cultural.
Guiomar carregou consigo seu aprendizado: “Encerrando o ginásio, voltei a São Paulo, onde fiz o curso clássico e o secretariado, trabalhando à tarde, até entrar na USP para cursar Pedagogia. Foi com o que aprendi no Colégio que sobrevivi, porque tinha muito pouco tempo para estudar. Quando, profissionalmente, apresentei meu primeiro trabalho ao Banco Mundial, em inglês, perguntaram-me onde tinha aprendido a língua. E ninguém acreditou que isso ocorrera apenas durante minha permanência num colégio do interior, quando cursara o ginásio”.
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