Natal!… Natal!..
BIMBALHAM hoje, mais festivos, os sinos das igrejas humildes e, mais graves, os das imponentes catedrais.
Falam os primeiros ao coração das crianças pobres e dos homens simples, aos quais a sede do ouro e do luxo ainda não atingiu com seu negro cortejo de perversões e durezas.
Tentam os segundos, quase em vão, reavivar os anestesiados corações das crianças que nasceram em berços doirados e dos homens a quem a riqueza pecuniária faz viver a vida artificial dos prazeres e dos vícios, divorciada da crença e do amor ao próximo, da compaixão e da caridade.
Como se torna estranha a humanidade neste dia simbólico do Natal! Deus se faz homem na simplicidade tosca de uma estrebaria, para significar que só a vida humilde pode aproximar os homens na compreensão dos sentimentos. Mas há homens que procuram ser deu deuses, isolando-se nos odiosos pedestais da fortuna, do orgulho e da maldade.
Por que tanta desigualdade e contrastes tão chocantes, neste caminho da vida, se ele conduz, sempre e inexoravelmente, ao mesmo porto inevitável da morte? Por que tantos terão de palmilhar descalços, ferindo-se nos cardos e pedrouços aguçados, a mesma estrada que outros, e tão poucos, percorrem pisando macios tapetes, refestelados em viaturas ricas e cômodas?
Certamente Deus, que se fez humilde para nos mostrar o valor da humildade, sabe o que faz permitindo a desigualdade e os contrastes. Quem sabe lá se a verdadeira felicidade, os prazeres legítimos e perfeitos não serão aqueles que sentem as crianças e os homens sem fortuna? É bem possível que as lutas as maldades e os crimes que se cometem para a conquista, a conservação e o gasto do dinheiro causem aos homens penas e dissabores mais dolorosos do que as necessidades e a miséria.
De qualquer maneira é bom lembrar que hoje é o dia glorioso do Natal, dia em que os sinos festivos das igrejinhas e os carrilhões graves das catedrais anunciam, mais uma vez, a todos os homens, o extraordinário ato de um Deus que se fez mortal para dar a entender à humanidade que a vida deve ser simples e boa, caridosa e compreensiva.
Pobres ou ricos, carreguemos todos as nossas cruzes de sofrimentos, procurando auxiliar-nos mutuamente na jornada da vida. Não lavemos as mãos como os Pilatos impotentes, mas dêmo-nos as mãos como os Cirineus generosos.
Natal! … Natal!…