Navegação do rio Piracicaba: breve histórico

Nos apontamentos do passado, há registros de que Piracicaba, nos seus primeiros dias de povoação, foi ponto de partida das moções para os sertões, onde haviam localizado as colônias militares de Avanhandava e Itapura, no rio Tietê.

Como esta, há em atas da Câmara inúmeras referências sobre o leito navegável do Piracicaba, até que, em 24 de maio de 1872, o Decreto Provincial nº 5.290, de 24 de maio de 1873, concede o privilégio a João Germano Bruns “ou companhia que se organizasse”, no caso a Companhia de Navegação Paulista, para exploração comercial do rio Piracicaba por trinta anos.

Em 13 de janeiro de 1874, é lançado às águas o vapor “Explorador”, o primeiro da Companhia de Navegação Paulista. Assim, tem início a navegação comercial pelo rio Piracicaba, motivo de júbilo para a Câmara e para a população, numa época em que os meios de transportes eram os lombos do burro, as carroças e carros de boi.

No dia 29 de julho de 1875, é deferido pela Câmara um requerimento da Companhia de Navegação que “desejava conservar uns restos da ponte velha sobre o rio Piracicaba, junto à margem esquerda do rio, fazendo frente à rua direita (hoje Moraes Barros), com o objetivo de se estabelecer uma espécie de desembarcadouro para os vapores”. Por esse documento podemos constatar que o rio era navegável até o largo dos Pescadores.

Em 10 de junho de 1876, o presidente da Província, Sebastião José Pereira, oficiava ao Ministro da Agricultura, mostrando-lhe as vantagens de uma ligação fluvial nas zonas de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso. Em atenção a esse ofício, foi nomeada uma comissão de técnicos, com objetivo de explorar os rios Tietê, Piracicaba, Mogi Guaçu e Rio Grande.

Através da Companhia Ituana de Estradas de Ferro, passando por Capivari, a família imperial chegou a Piracicaba em 22 de setembro de 1878, hospedando-se no palacete do doutor Estêvão Ribeiro de Souza Rezende. Dom Pedro II fez questão, com a augusta comitiva, de realizar uma excursão pelo Rio Piracicaba. De canoa, foi até o Canal Torto, onde tomou o vapor da Companhia Paulista, até lugar chamado Limoeiro.

No dia 24, a comitiva imperial deixou Piracicaba rumo a São Paulo. Maldosamente, a tradição afirma que o monarca brasileiro, grato pela hospedagem recebida em nossa terra, propiciada pelo seu anfitrião, agraciou Estevão Ribeiro de Souza Rezende com o título de Barão de Rezende.

No início do século XX, a navegação no rio Piracicaba foi interrompida, o que provocou protesto por parte de todos os produtores da região. Em 18 de julho de 1901, o “Jornal de Piracicaba” publicou uma carta-artigo mostrando a indignação de todos os produtores:

Foi com surpresa que recebi do Sr.Chefe da estação Porto Vila Maria um recado, avisando-me que não manda-se mais carga para aquela estação, pois, que estava suspenso o tráfego fluvial. Não podia haver maior cataclismo para essa zona. Além da crise que atravessamos, que tanto tem deprimido a lavoura, aparece-nos agora mais esta triste extorção, para de vez, exterminar a lavoura e o comércio desta zona.

Os clamores encontraram eco. No dia 14 de agosto do mesmo ano, lia-se no “Diário Popular “.

SUPRESSÃO DE NAVEGAÇÃO – A Secretaria de Agricultura declara à Câmara Municipal de S.Pedro a supressão da navegação dos rios Tietê e Piracicaba, por parte da Companhia Sorocabana Ituana, que o governo estará estudando o assunto de modo a ser resolvido como melhor consultar o interesse público.

Os protestos deram resultado e a navegação foi reativada. Três barcos navegaram o rio Piracicaba, em 1924: o “Visconde de Piracicaba”, o “Souza Queiroz” e o “Visconde de Itu”, maior que os demais, inclusive provido de camarotes para os passageiros do trajeto entre o Porto Martins e Barra Bonita.

Na época das enchentes, o “Visconde de Itu”, fazendo o trajeto entre Porto João Alfredo e Piracicaba, rebocava até três lanchas carregadas de café ou madeira para a Sorocabana.

No livro “Piracicaba – Documentário “, organizado por Mário Neme , em 1936, há um levantamento de dados e informações sobre Piracicaba, bem como uma resenha da cidade naquele ano, onde lemos:

Diversos são os portos localizados no município: o Porto João Alfredo, importante pelo seu commercio, os do Limoeiro, Samambaia e Paredão Vermelho, todos no rio Piracicaba, e Baguary, no rio Tietê. A navegação fluvial, para a qual muito se presta o Piracicaba, é explorada por diversas emprezas particulares e pela Estrada de Ferro Sorocabana

Com os desvios das águas para abastecer as cidades vizinhas dos rios da bacia, com as indústrias se estabelecendo ao lado das margens, com o represamento do rio Atibaia e a entrada em funcionamento da Barragem de Salto Grande, nos idos de 1950, a navegação pelo rio Piracicaba já era letra morta. O golpe final foi a entrada em funcionamento do Sistema Cantareira, roubando um terço de suas águas para abastecer a Grande São Paulo.

Com a construção das barragens de Barra Bonita, Bariri e Ibitinga, renasceu a esperança da navegabilidade do rio Piracicaba, integrado à Hidrovia Tietê-Paraná.

Nos primeiros estudos para dar navegabilidade ao rio Piracicaba surgiram três opções, em todas elas o município de Piracicaba era privilegiado: Foz do rio Corumbataí, a 4,5 km do centro da cidade; distrito de Ártemis (antigo Porto João Alfredo), a 14,5 km; e o Sítio Sorocabano, a 24,5 km.

Por mais de uma década os projetos permaneceram engavetados. A partir de 1993, o governo municipal passou a empenhar-se politicamente pela integração do Piracicaba à Hidrovia Tietê-Paraná.

A opção pelo Porto de Ártemis, como o mais coerente para integração com a Hidrovia Tietê-Paraná, e por isso a luta foi para definir a Barragem de Santa Maria da Serra como prioridade do Governo do Estado.

No mês de maio de 1995, o governador Mario Covas, a CESP e o prefeito de Piracicaba, Antonio Mendes de Carlos Thame, firmaram um protocolo para implantação de um grande complexo hídrico e um plano de desenvolvimento do Vale do Piracicaba.

Em 2000, era plano do programa do Governo do Estado de São Paulo que a navegação chegasse ao Rio Piracicaba, alcançando essa próspera região agrícola e industrial do interior paulista.

E agora JOSÉ ?

*Hugo Pedro Carradore – professor, folclorista e historiador

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