Os “Anos Dourados” em Piracicaba (1): o dandismo como transformação

Uma das mais espetaculares transformações sociais de Piracicaba ocorreu no final dos 1950, quando pudemos entender e viver, finalmente, o fenômeno que se tornou conhecido como Dandismo. Uma reflexão a respeito disso foi feita pelo autor em A PROVÍNCIA, em sua edição impressa, em janeiro de 1997, em edição especial, “Almanak”, que circulava com o jornal A Tribuna Piracicicabana. Aquela edição especial pretendeu discorrer sobre o fenômeno social, deflagrado a partir da coluna social “Café da Manhã”. assinada por Marco Aurélio, pseudônimo adotado pelo então chefe da receita e fiscal de rendas Mauro Pereira Vianna.

A partir de hoje, A PROVÍNCIA.com., buscando informar sobre os “Anos Dourados”, reproduz e amplia aqueles textos, para servirem de subsídios às novas gerações, como registro de um tempo de grandes e riquíssimas transformações dem Piracicaba. Iniciamos por uma breve análise do Dandismo, fenômeno social que, tardiamente, Piracicaba conheceu em todo o seu requinte.

O dandismo como transformação

Foi com Baudelaire, na França, e com Oscar Wilde, na Inglaterra – que surgiram as primeiras explicações para o Dandismo, fenômeno social que teve o seu apogeu na Europa, no Século XIX. Dele, nasce a chamada crônica mundana – precursora das atuais colunas sociais – onde se registraram mudanças que serviram para interpretar as profundas transformações do Mundo. Atualmente, o Dandismo e a figura do Dândi têm sido vistos como algo ultrapassado, com características deformadas. Dândi e Dandismo tornaram-se sinônimos de frivolidade, no simplismo de se ignorar os profundos aspectos revolucionários, tanto políticos como sociais. No entanto, é um fenômeno social transformador, que surge em épocas de transição, após decadências sociais.

No Dandismo, buscam-se refinamentos, novos ou de origem nostálgica. Hábitos aristocráticos – independentemente de classes sociais – são recriados, podendo-se, pois, concordar com a percepção de Baudelaire de que se trata de “fundar uma nova aristocracia”, evidentemente com novos valores, acima e além do senso comum anterior. Wilde, ao dizer que a “arte imita a vida”, pretendeu definir a função do artista diante de seu tempo e do dandismo. E, com seu cinismo sofisticado, afirmou que a finalidade do artista “é sempre a mentira”, ou seja, “o relato das belas coisas falsas.” No Dandismo, o belo tem mais importância do que o verdadeiro, pois se trata de um momento criativo de transição, de anúncio do novo.

No Brasil, o Dandismo aconteceu tardiamente, pois os acontecimentos e modelos europeus ainda, nas dificuldades de tempo e espaço, demoravam a chegar. No Século XX, primeiramente nos anos 1920/ 30, vindo a repetir-se com nova roupagem nos anos 40 e 50. Atualmente, estudiosos debruçam-se sobre a obra do cronista e jornalista João do Rio que, com suas crônicas sociais, se tornou fonte inesgotável de subsídios para o entendimento do Brasil do início do século, urbanizado e com o seu mundo rural aristocrático ruído.

Em Piracicaba, o Dandismo só veio a acontecer com a chegada de Mauro Pereira Vianna a esta Cidade. Com o pseudônimo de Marco Aurélio, Mauro Vianna criou a coluna “Café da Manhã”, permitindo viesse à luz o Dandismo reprimido. O mundo rural, de aristocratas conservadores e estratificados, já havia ruído com o final da II Guerra Mundial; lideranças estavam superadas; uma nova classe dirigente surgira. Faltava, no entanto, a consolidação delas, o seu reconhecimento, a sua afirmação como uma “nova aristocracia”. Os estudiosos têm, nas colunas de Mauro Vianna em 1959 e 1960, um retrato fiel e límpido do que foram aquelas transformações em Piracicaba, de como aconteceu o nosso Dandismo local. (CONTINUA)

3 comentários

  1. Nira Gobbo em 28/05/2013 às 15:34

    Os Anos Dourados machucam-me de saudades. Você, Cecílio, foi e é, o único historiador piracicabano que jamais deixou de elogiar e destacar a minha atividade no jornalismo, no ensino e nas rádio-novelas. Um abraço afetuoso de quem nunca o esqueceu e jamais esquecerá.
    Prof. Mauro Pereira Vianna

  2. Maria Isabel Argollo em 29/05/2013 às 17:54

    Sou piracicabana dos anos dourados . Meu apelido ,isto é ,era chamada de BELA MUNHOZ.Saudosa da minha terra e amigos que lá deixei..,Não esqueço a Piracicaba que adoro tanto. Ninguém compreende a dor que sente ,um filho ausente à suspirar por ti .

  3. Lilia em 29/05/2013 às 22:31

    Nossa!!!!!eu lembro do Marco Aurélio e do café da manhã!ele conseguiu me fazer cantar na rádio acompanhada com o Canhoto !!!!vigsh…..q vergonha!!!!!

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