Paula e Hortência: o bolo brasileiro

O texto abaixo foi publicado em setembro de 1987 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

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Foto que estampava a matéria de 1987

Paula e Hortência, as grandes estrelas do basquetebol brasileiro, revelam a pujança do interior de São Paulo, nesse bolo que é o nosso basquete. 

Nos esportes coletivos, nos quais o resultado final depende do trabalho conjunto de todos os componentes de uma equipe, essa condição, infelizmente, por não ser bem compreendida, gera injustiças quanto ao reconhecimento dos méritos individuais.

No voleibol, invariavelmente, o atleta que se destaca fazendo o público vibrar mais intensamente, é o que sobe junto à rede e executa uma violenta cortada, fazendo a bola explodir na quadra do lado adversário. 0u quando sobe para o bloqueio com felicidade, devolvendo com igual força a cortada desferida contra o seu lado.

No futebol, o lance mais empolgante e que costuma consagrar o atleta, não poderia outro senão a suprema conquista do gol. Gol que pode ser marcado de ombro ou até de canela, não importa. O artilheiro, o goleador da equipe transforma-se rapidamente no ídolo das plateias.

Tanto no voleibol quanto no futebol, igual reconhecimento não se confere a outros integrantes da equipe que executam trabalho muitas vezes mais importante para o produto final que são as conquistas dos pontos e da vitória. No volei, os injustiçados, sob esse aspecto, são os especialistas no passe e os levantadores. Somente os absolutamente fora-de-série obtém, excepcionalmente, a consagração. No futebol, há inúmeras funções, que exigem alto preparo técnico e físico, cujos executantes nunca terão a glória de goleador.

No basquetebol, acontece a mesma coisa. O atleta que se transforma no “cestinha” da partida sempre é mais festejado do que os demais, incluindo-se neste rol os armadores, que funcionam como o cérebro do conjunto.

Neste particular, uma das raras exceções é a atleta Paula, até mesmo porque, além de armadora de todas as jogadas da sua equipe, possui outros atributos que fazem dela, sem favor algum, uma das mais perfeitas e completas jogadoras de basquetebol de todo o mundo.

Paula executa todas as funções dentro da quadra, desde a armação das jogadas até a infiltração para a bandeja ou os chutes de pontos, possuindo alta média de pontos por partida, contando-se ainda a “assistência”, ou seja, o lance em que ela coloca uma companheira livre para fazer a cesta.

Mesmo nas disputas do PanAmericano, em que a imprensa norte-americana conferiu as honras de estrela absoluta à atleta Hortência, a técnica da seleção norte-americana classificou Paula como uma das melhores cestobolistas da atualidade no mundo, o que, lamentavelmente, não foi muito considerado pela imprensa brasileira.

Para que se tenha uma ideia da realidade, na partida final contra a equipe dos Estados Unidos, Paula jogou sem a plenitude das condições físicas, por estar com forte gripe e febre alta.

Pois nessa partida, Hortência foi a “cestinha” com 28 pontos. Paula assinalou 25 pontos e executou 10 “assistências”, ou seja, criou condições para companheiras suas, inclusive Hortência, fazerem mais 20 pontos, em jogadas diretas para a cesta.

Lá mesmo, nos Estados Unidos, com o decorrer dos jogos, um analista esportivo resumiu assim as duas estrelas brasileiras: Paula é o recheio do bolo e Hortência a cobertura.

Hortência fez o espetáculo e ganhou as honras da maior consagração. Paula mostrou a sua técnica, incomparável, como  espinha dorsal da equipe e responsável pela produção coletiva que levou o Brasil à conquista da Medalha de Prata.

 

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