Piracicaba através dos tempos (1)

Este artigo foi publicado no jornal impresso “A Província” em agosto de 1992, mês em que a cidade comemorou seus 225 anos.

Ilustração Piracicaba através dos tempos

A expansão bandeirante e a preia fizeram recuar as nações indígenas do Vale Médio do Tietê, onde se incluíam os sertões do Piracicaba. No séc. XVIII restaram a mata subtropical, a hidrografia e a fauna.

Em 1722, Luís Pedroso de Barros, objetivando alcançar o perdão por um crime que não cometera, empresariou a abertura do célebre Picadão de Mato Grosso, cujo risco, ligando S. Paulo a Cuiabá, atravessava o rio Piracicaba, bem à altura do porto, junto ao seu formoso Salto. O executor do primeiro segmento deste longo caminho, conectando Itu à Piracicaba, foi Felipe Cardoso, entre 1722 e 1723. Logo após ele, partiu Luís Pedroso de Barros, completando-se a varação dos Campos de Araraquara até o rio Paraná. Em 1726, já passavam por Piracicaba os primeiros comboios para Cuiabá.

Em recompensa aos serviços prestados, Felipe Cardoso recebeu d’El Rei a sesmaria de uma légua em quadra, tendo o porto de Piracicaba bem ao centro, enquanto Luís Pedroso de Barros obteve o perdão e mercês. Por falta de visão administrativa, o governo português logo proibiu a utilização deste caminho e a sesmaria de Felipe Cardoso entrou em decadência. A picada não tardou a ser engolida pelo mato.

Piracicaba continuou procurada, através do rio, por gente procedente de Araraitaguaba (Porto Feliz), interessada nas altíssimas árvores para a construção de canoas monçoneiras, indispensáveis aos rios da bacia platina. Foi assim que se tornou conhecida pelo ituano Antônio Corrêa Barbosa, armador das monções em Porto Feliz e escoIhido pelo Capitão General D. Luís Antônio Botelho de Sousa Mourão, Morgado de Mateus, em 1766, para organizar uma povoação nos sertões de Piracicaba, especialmente localizada na barra com o rio Tietê.

O momento era de guerra na fronteira entre castelhanos e portugueses. Outro ituano, o Capitão João Martins de Barros, recebera a incumbência de fundar o Forte de Iguatemi na fronteira paraguaia, havendo partido de Araraitaguaba em 27/07/1767. Dois dias antes, Antônio Corrêa Barbosa se deslocava com a sua  gente para fundar Piracicaba, tida como povoação estratégica.

Piracicaba através dos tempos _ ícone 1

Como se constituía aquela antiga sociedade estabelecida na margem direita do rio, junto ao  velho porto? Eram administrados (índios carijós) escravos (provavelmente índios), mulatos, caboclos, brancos pobres, comandados pelo Diretor-Povoador Antônio Corrêa Barbosa, que trazia a jovem esposa, dona Ana de Lara, alguns filhos pequenos, muitos  parentes e amigos. Não chegavam  a duzentas pessoas!

Manter viva a Povoação foi tarefa de gigante. Grande alegria animou os “povos” no momento em que Piracicaba foi elevada à  Freguesia (1774), tendo por orago Santo Antônio. A comunidade plantada ao pé do Salto sobrevivia da produção das suas roças e da construção das canoas com as quais abastecia as necessidades monçoneiras de Araraitaguaba, particularmente, Iguatemi.

Em 1777, o Forte foi conquistado e destruído pelos espanhóis e índios guaicurus. O fim da guerra coincidiu com o avanço da fronteira agrícola de Itu no rumo dos sertões do Piracicaba. Chegara o momento de introduzir os canaviais, os engenhos e a escravaria, de produzir o ouro branco (açúcar), que já começava encontrar colocação no mercado internacional pelo porto de Santos.

O Capitão Antônio Corrêa Barbosa e Frei Tomé de Jesus (o pároco da Freguesia), tomaram a iniciativa de mudar Piracicaba para a margem esquerda do rio, a fim de aproximá-la da estrada de Itu. A área destinada a sediar a comunidade transplantada foi adquirida no cartório de Itu, pelo valor de oitenta mil réis, em 1784. Operada a mudança neste mesmo ano, Piracicaba era tão somente a Rua da Praia (hoje, rua do Porto). O Largo dos Pescadores permaneceu como o principal logradouro daquela comunidade que continuava ligada ao rio, seja como roceiros, pescadores, ou interessados nos comboios que pediam passagem para o rumo dos campos de Araraquara. Só muito lentamente, Piracicaba começou a escalar a rampa do Picadão (rua Morais Barros), em direção à esplanada de Santo Antônio (praça José Bonifácio).

(continua)

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