Piracicaba através dos tempos (2)

Este artigo foi publicado no jornal impresso “A Província” em agosto de 1992, mês em que a cidade comemorou seus 225 anos.

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(imagem: Benedito Calixto – “Moagem na fazenda Cachoeira”, Campinas, SP || fonte: https://ensinarhistoria.com.br/para-colorir-fazenda-de-cana-do-brasil-colonia/ – Blog: Ensinar História – Joelza Ester Domingues)

O progresso experimentado em Piracicaba, por efeito dos engenhos e das tropas cargueiras, alimentou o projeto dos políticos liberais que desejavam erigi-la em Vila, desde 1816. As grandes lide ranças políticas estavam em mãos do Capitão Domingos Soares de Barros, do Dr. Nicolau Pereira de Campos Vergueiro e do vigário, Pe. Manuel Joaquim do Amaral Gurgel. A luta foi coroada de êxito em 10/08/1822, pouco antes da Independência do Brasil, mas a comunidade, infelizmente, mu dou de nome, passando a chamar-se Vila Nova da Constituição, ou melhor, Constituição.

Piracicaba deixara de ser “boca de sertão”, experimentando as transformações que caracterizavam a chegada da fronteira agrícola: crescimento populacional, aumento da escravidão, multiplicação das propriedades rurais e dos engenhos, valorização da terra e expansão do sistema viário. A fertilidade do solo e a possibilidade de expandir as lavouras atraíam os proprietários de todo o Vale Médio do Tietê, até de Minas Gerais e Portugal.

O recenseamento de 1822 dá conta de 648 fogos (lares) para o Distrito da Vila de Piracicaba,  excluindo-se a Freguesia de Araraquara, o que significava uma população aproximada de 4.762 indivíduos livres e escravos. A população urbana, esta, era muito pequena, não devendo ultrapassar os 700 habitantes, distribuídos entre o Itapeva (avenida Armando de Salles Oliveira) e a rua dos Ourives (rua Rangel Pestana).

A instalação do governo municipal (a Câmara), fez-se debaixo do enfrentamento de dois poderosos grupos de proprietários rurais, divididos por ideologias (liberais e absolutistas) e por interesses econômicos dentro do rossio (terreno da Vila). O conflito chegou ao apogeu durante a Revolução Liberal de 1842, momento em que os liberais se levantaram contra as leis da Monarquia, liderados pelo Vigário Pe. Manuel José de França e pelo vereador Melchior de Mello Castanho. Foram derrotados na batalha de Venda Grande, ocorrida em Campinas em 07/06/1842. Sinal daqueles tempos difíceis, ergueu-se a Forca, pouco acima do Itapeva!

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Na segunda metade do séc. XIX, Piracicaba continuava pequenina, havia tudo por fazer. Em 1856 foi elevada à condição de cidade, permanecendo o nome: Constituição. A descrição deixada pelo Barão Von Tschudi, que a visitou em 1860, não é nada lisonjeira: muitos escravos, prédios feios e acanhados. Casa da Câmara, Teatro, Matriz, Igrejas do Rosário (São Benedito) e da Boa Morte, cemitério onde é a Escola Morais Barros, casario barroco escorrendo pelas ruas da Quitanda (XV de Novembro) e de Santo Antônio (Governador). Trânsito, só na rua Direita (ex-Picadão, Morais Barros), a artéria que ligava à ponte sobre o rio Piracicaba.

Os monarquistas mantinham-se fortes na Câmara e, por duas vezes, o Imperador D. Pedro II, visitou Piracicaba, em 1846 e em 1878. Nos últimos 20 anos do Império, constituiu-se uma verdadeira aristocracia em Piracicaba, consolidaram-se as lideranças conservadoras dos barões de Rezende (Dr. Estevão Ribeiro de Sousa Rezende), de Serra Negra (Francisco José de Conceição) e de Piracicamirim (Antônio de Barros Ferraz). Logo após a Convenção Republicana de Itu, em 1873, se lhes antepôs um grupo dinâmico que sustentava as suas convicções liberais e federalistas, no interior de um novo projeto de construção da nacionalidade. Eram os republicanos: os irmãos Morais Barros (Manuel e Prudente), Luís de Queiroz, Martim Bonilha, Vitalino Ferraz do Amaral, Paulo Pinto de Almeida.

No final da Monarquia, Constituição recuperou o seu nome de origem, por instância do vereador Prudente de Morais, voltando a chamar-se, oficialmente,

Piracicaba (1877). Neste mesmo período, começou a experimentar expressivas transformações socioeconômicas, grande afluxo imigracional e abertura das ideias políticas no rumo da Abolição e da República. O café e a cana continuavam sendo as principais riquezas, mas deslanchava o capitalismo comercial e financeiro. Os principais sintomas desde novo dinamismo foram: a construção da Ponte Nova, acima do Salto (1875), a chegada da ferrovia, a Cia. Ituana (1877), a organização das grandes escolas confessionais, o Colégio Piracicabano (1881) e o Colégio Nossa Senhora da Assunção (1883), a Santa Casa de Misericórdia (1883), o Serviço de Água (1887), o Mercado Municipal (1888) e a Telefonia (1889).

Piracicaba ainda possuía expressiva população escrava às vésperas da Abolição, crise que superou sem traumatismos, dada a progressiva substituição do trabalho escravo pelo livre. A grande festa correu por conta do 15 de Novembro, comemorado em clima de exaltação cívica, ao som da Marselhesa, tida como o hino da Liberdade das Américas.

(continua)

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