Piracicaba através dos tempos (3)

Este artigo foi publicado no jornal impresso “A Província” em agosto de 1992, mês em que a cidade comemorou seus 225 anos.Ilustração 2 – Piracicaba através dos tempos

Os republicanos históricos consolidaram um estilo de governo liberal-positivista que perdurou em toda a 1 a República. Os irmãos Morais Barros ascenderam à cúpula da política brasileira, abrindo espaço para o médico sanitarista, Dr. Paulo de Morais Barros, herdeiro político do senador (e pai, Dr. Manuel) e do presidente (e tio, Dr. Prudente). Juntos, compuseram a famosa trindade perrepista de Piracicaba, cujos efeitos chegaram até a década de sessenta. Os monarquistas aderiram ao novo regime, apresentando-se como “republicanos conservadores” e mantendo-se sob a liderança do Barão de Rezende, até o falecimento deste em 1909. Depois, aproximaram-se do PRP (Partido Republicano Paulista) ou uniram-se ao PD (Partido Democrático), agitando as eleições nas décadas de vinte e trinta.

Ao findar o séc. XIX, Piracicaba apresentava os seguintes dados estatísticos: 2.252 prédios e 14 mil habitantes urbanos, distribuídos na área central e nos bairros: Alto, dos Alemães, da Boa Morte e do Porto. Graças à iniciativa particular do grande Luiz de Queiroz, funcionava a Fábrica de Tecidos Santa Francisca (desde 1896) e a rede elétrica de iluminação (inaugurada em 1893). As grandes Sociedades Beneficentes prosperavam e construíam belas sedes: a Italiana (1887), a Portuguesa (1897), a Espanhola (1898) e a Igualitária (1893). A Sociedade Síria só surgiu em 1902.

Foi no campo da Educação que a República marcou mais  significativamente o seu advento, pois Piracicaba apresentou ao país um conjunto integrado de escolas de 1o e 2o graus do mais alto gabarito: o 1o Grupo Escolar (depois, Barão do Rio Branco) e a Escola Complementar (depois, Escola Sud Mennucci), esta, destinada à formação profissionalizante, professores primários; ambas instituídas em 1897. Completava o grupo, a Escola de Agronomia idealizada por Luiz de Queiroz, funcionando desde 1901, a princípio técnica, depois superior. O sucesso do trabalho educacional em Piracicaba projetou-a em todo o país, valendo-lhe o apelido de Ateneu Paulista (jamais Atenas Paulista), por parte do intelectual italiano Roberto Capri em 1910 (Cf. Libro D’ORO, p. 576). A escolarização que se sucedeu, graças à multiplicação da rede, nas áreas urbana e rural, vinha a atender as necessidades dos diversos segmentos da sociedade, notadamente, as classes emergentes.

Piracicaba através dos tempos – ícone 2

Simultaneamente, cuidava-se da infra-estrutura urbana. Entre 1899 e 1901, a cidade se achava convulsionada pela construção da rede de esgotos da qual dependia o saneamento básico, principal arma de defesa contra as apavorantes enfermidades que, periodicamente, atacavam a população: lastrim (bexigas), o tifo, a maleita.

Piracicaba fazia-se culta, limpa, pacífica, bela, pitoresca e paisagística. Em 1909 era tida como a 5a cidade paulista em população e a 2a em Educação (número de escolas por habitante), superando Santos e Campinas. Não era apenas o Ateneu, mas “a pérola dos paulistas”, expressão de que os piracicabanos mais se orgulhavam na época. Em 1913, foi inaugurado o Matadouro Modelo e começaram a circular os bondes elétricos, duas novidades que deram grande prestígio à Piracicaba. Em 1917, inaugurou-se a nova sede da Escola Complementar, no Bairro Alto, o suntuoso Palácio da Educação para o Povo e, em 1922, chegaram os trilhos da Cia. Paulista de Estradas de Ferro, agilizando o progresso. Como lazer e utilidade, a sociedade adotava novos hábitos: os transportes motorizados, o cinema e o futebol (o glorioso XV de Novembro): Destacava-se nas décadas de 20 e 30 o pioneirismo do grupo Dedini no crescimento urbano-industrial, no desenvolvimento do mercado de trabalho e no amadurecimento da consciência operária.

O ufanismo piracicabano não tinha limites durante a 1a República e a sociedade nutria o maior carinho pela sua cidade.

(continua)

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