Piracicabanos também amavam nos motéis

Na década de 70, quando surgiram, eles eram modestos quartinhos, sem TVs, onde os casais iam se esconder, com vergonha de pedir um lanche.

Depois, já existiam lavanderia, cozinha completa 24 hs, TVs, canais de vídeo,som ambiente, sauna, hidromassagem, luz negra, cama redonda, espelhos, colchão d’água e tantos recursos.

Quem garantiu isso foram dois moteleiros, em 1988, em entrevista ao Semanário A PROVÍNCIA: Roberto Nigro, que era proprietário do Scorpius, e Marcos Antonio Sisi, dono do Trêvo.

Eles explicaram as diferenças de público nos dias da semana: os jovens preferem sábado e domingo. Os casais que aparentemente estão juntos há bastante tempo , de segunda a quinta. E a “turminha da feira”, que são os que chegam de manhã.

Para todos eles, a garantia era sempre a mesma: sigilo. “Os funcionários são orientados para nem cumprimentar os clientes na rua, para evitar-lhes aborrecimentos ou ter que dar explicações a alguma esposa ou namorada ciumenta, que pode não saber de suas escapadas. Mas, às vezes ocorre justamente o oposto. O cliente acaba se ofendendo quando uma recepcionista de motel,passa por ele e finge não ver. “Elas levam bronca depois quando eles voltam ao motel, do tipo ‘você passou por e virou a cara'” – contaram.

E completaram: tem o exibicionista que, ao encontrar com um proprietário motel num bar, o puxa para a rodinha e diz, orgulhoso: ‘conta pra eles quantas vezes vou lá por mês’.

A profissão de moteleiro tem especificidades. E gírias próprias também. Quem é novo no ramo é chamado de “calça-branca” e o moteleiro que mora no próprio motel é o “Tico tico no Fubá”.

O que também é comum são as histórias de motel, que os dois garantiram, são contadas em todos os lugares. “Virou modismo” – citaram, lembrando aquela famosa do carro que bateu em outro dentro do Motel e o sujeito anotou a chapa. Quando foi tirar satisfações, era a esposa do dono do carro que estava dirigindo. Com outro.

Embora a maioria seja mesmo fantasia, o que acontece às vezes são telefonemas pedindo para chamar alguém que está com o carro tal, porque aconteceu um acidente. Mesmo assim, por precaução, os proprietários não chamam.

Marcos se lembra de poucas histórias pitorescas ocorridas no Trêvo. E contou uma: Na fila, esperando uma vaga, uma moça viu no outro carro o irmão do namorado. Resultado: teve que se esconder no escritório até ele entrar.

No Scorpius, um cliente colocou uma vez a cadeira erótica do apartamento dentro da hidromassagem e, no dia seguinte, o proprietário teve que chamar um técnico para desmontá-la e tirá-la de dentro da banheira.

“Às vezes um carro quebra, ou não quer pegar ou, o que é mais comum, o sujeito esquece a chave dentro. Então, depois de tanto tempo, somos um pouco chaveiros, borracheiros, mecânicos” – contaram, bem humorados.

Os dois concordaram que, em Piracicaba, já havia uma frequência cada vez maior de casais casados nos motéis. “É o caso do bissexual, ou seja, o casal que faz sexo duas vezes por semana” – brincou Marcos, dizendo que este casal já tem os dias certos para o sexo e, acabam procurando os motéis. “A esposa até estende o lençol da cama” – completou, ajudado por Roberto que observa: “Este é o tipo de freguesia que não desenha corações na parede recém- pintada ou deixa recadinhos”.

Aliás, este mérito os dois moteleiros atribuíram aos piracicabanos: são mais ordeiros do que os paulistanos.

O filminho

Os moteleiros contaram ainda sobre os filmes passados nos motéis. Segundo eles, logo que um filme pornográfico acabava e a recepcionista selecionava o próximo, era comum o interfone tocar e a reclamação: “E o firminho? Cabô?”

Alguns clientes levavam também o próprio filme que queriam ver. “Outros ainda ligam dizendo pra trocar o filme porque já assistiram aquele”, contou Roberto. Ele contou ainda que, certa vez, um cliente chegou a levar um filme da festa de casamento da filha. “Ele não tinha vídeo e queria ver. Se não for num sábado à noite, por exemplo (quando a freqüência é maior), dá pra colocar”.

Enfim, motel é isto mesmo. As pessoas vão também para fazer sexo. É mais uma forma de lazer, com TV, vídeo, sauna. Alguns vão sozinhos. Lêem o jornal, descansam, tomam uma sauna ou ficam de molho na hidro.

Outros preferem comemorar alguma data especial no motel ou apenas acompanhar as Olimpíadas em paz. Ou um jogo de futebol. Roberto já hospedou estudantes que vêm prestar vestibular, executivos que passam a noite toda terminando um relatório para ser entregue no dia seguinte e até times de futebol.

Motel, portanto, deixou de ser elitista. Tem quem chegue de bicicleta e fique esperando na fila; tem os casais que vêm de ônibus, táxis e já pintou até gente a cavalo!

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