Projeto Beira Rio: como agir para mudar (final)

Depois de amplo diagnóstico – consultar edições anteriores do Almanaque – o Projeto Beira-Rio, em suas conclusões, apresenta estratégias de ação claras: para mudar a longa faixa territorial que acompanha o Piracicaba, por longos quilômetros, é preciso pensar a curto e médio prazo. Mais: é preciso que a comunidade compreenda, se envolva e seja envolvida para que os planos de ação consigam congregar os habitantes da cidade, os profissionais, os políticos.

O antropólogo Arlindo Stefani, coordenador do Projeto Beira-Rio mostra que, depois da análise, do diagnóstico, basta agir. Com ações a curto prazo, cujo objetivo é psicossocial e político, de forma a reforçar a adesão das comunidade e mobilizar a opinião pública. Mas também com ações que possam ser programadas por um período de até quatro anos, que envolvem investimentos e decisões do poder público e que fogem do espaço de decisão e ação exclusiva dos cidadãos, como a discussão de novo plano diretor de Piracicaba, a reconstituição e aproveitamento do Engenho Central, inclusão de obras de arte ao longo do rio, alteração das pontes que ligam as duas margens –especialmente a do Mirante, com criação de belvederes onde os transeuntes pudessem encontrar um pequeno comércio e local de estacionamento tranqüilo, implantação de um Centro de Pousadas em áreas como Artemis, Tanquã, ESALQ, Monte Alegre.

O que se pode fazer de imediato

As ações imediatas, entretanto, que já poderiam ser incentivadas e desenvolvidas pelo que já motivam a comunidade são as seguintes:

– no chamado Pólo Central do Projeto: Projeto Barrancos, envolvendo embelezamento, limpeza, colocação de bancos nos barrancos da rua do Porto e proteção contra chuva e vento. Colocação de lixeira e eliminação do mau cheiro, instalação de bicas d’àgua potável e sanitários a intervalos regulares;

– na Ilha dos Amores, acima do Salto: redescoberta da ilha pelo grande público, com levantamento da área e preparação , envolvendo ainda uma passarela alta para que todo passante possa ver e admirar o local;

– na Rua do Porto: redescoberta da mina de barro da Tijuca, com antigos oleiros e oleiras e escolha do lugar para instalação do Museu vivo do barro da Rua do Porto;

– no Pólo Bandeirantes e City: redescoberta da mata ciliar que se encontra de um lado e canal da beira direita entre o Mirante e a captação da Belgo Mineira. Envolvimento da comunidade ribeirinha do São Dimas, do Lar dos Velhinhos e do Clube de Campo, da Cia City ( proprietária do terreno) para construção de calçadas e trilhas na Avenida Renato Wagner, arrumação de bica d’água e batismo das árvores do local com o nome científico e o nome popular;

– no Bongue: envolver a comunidade para definir formas de integração com o perímetro urbano, construir calçadas no caminho dos pescadores, colocar bancos públicos, lixeira, construção de ciclovia;

– em Monte Alegre: implementar Projeto de Centro Comunitário, tombamento das casinhas e da sede da fazenda, recompor o mapa da comunidade em seu período áureo , restaurando a importância da Teixeirada e das águas festivas da lagoa;

– em Corumbataí: passeio até o Campim Fino, visitas à comunidade de Santa Gertrudes, desenvolvendo ligação com o Museu da Água;

– no Pau Queimado: encontro com catadores de lixo do aterro do Pau Queimado , incentivo aos artesãos da associação dos artistas do lixo. Organização de cooperativa de Tanquã, envolvendo Sindicato dos Plantadores e Moedores de Cana;

– Ártemis: limpeza da área do Porto João Alfredo e da Sorocabana. Saneamento do esgoto ali despejado. Envolvimento da população das duas margens e organização do turismo rural, com destaque às trilhas das duas beiras;

– Tanquã: construção de praça pública, organização de cooperativa para coleta de lixo, reparação da iluminação pública, auxílio para instalação de uma agência bancária, posto de correios, telefones e construção de parada de ônibus e carros. Projeto para diagnóstico de arqueologia subaquática;

– Jardim da Boyes: estabelecimento de programa de visitas sob guia do Instituto Histórico e Geográfico, buscando conhecer o sagrado do lugar, onde se localizava o cemitério dos índios;

– Ciaporanga: o local onde os índios celebravam sua núpcias deve ser incluído no roteiro de visitas;

– Canais do Engenho Central e Ilhas: introdução de projeto de visita aos sete canais, com guias. Limpeza e restauração dos caminhos.

 As tarefas permanentes

O Projeto Beira Rio não deixa de mencionar, entretanto, em sua etapa final , aquilo que entende como tarefas permanentes para sua viabilidade.

A primeira, de caráter político, implica em criar um clima favorável ao próprio projeto, tendo, portanto, um caráter subjetivo, formador, motivante, encorajador e motivador a todos os envolvidos.

A segunda tarefa trata do item saneamento básico, eliminando-se o mau cheio da área central onde passam as multidões, envolvendo, portanto, uma questão de estratégica urbana mas que trabalha com a estética e com questões também técnico-científicas.

A última se refere ao tratamento do lixo, diretamente vinculada, por exemplo, a existência do aterro sanitário de Pau Queimado.

A introdução que finaliza

As palavras do antropólogo Arlindo Stefani, que abrem a apresentação formal do Projeto Rio, podem, no entanto, finalizá-lo. Pouco mais haveria a dizer sobre o rio, sobre Piracicaba, sobre os que vivem em Piracicaba:

…“o índio veio aonde o peixe pára.

O industrial veio aonde o peixe pula.

Nós vamos aonde o rio espera.

O peixe criou o índio.

O salto criou o industrial.

O rio, conosco, cria Piracicaba.”

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