Quando teria começado o povoamento em Piracicaba?
Piracicaba não foi, sem dúvida, um núcleo de fundação deliberada. O seu povoamento começou nos primeiros anos do século XVIII, ao declinar o ciclo das bandeiras. Já havia realmente moradores – posseirPlanta de Guilherme Vittios e sesmeiros – nos sertões que margeavam o rio Piracicaba, quando se verificaram os tristes acontecimentos que enlutaram a história do ouro em Cuiabá, o que teve relação com a história da fundação de Piracicaba.
Na verdade, o primeiro povoador de Piracicaba foi o ituano Felipe Cardoso que, em 1726, obteve terras da sesmaria que circundavam o porto do rio, exatamente no local em que Piracicaba/Vila da Constituição haveria de nascer e desenvolver-se. A confirmação do reino dessa sesmaria veio a 6 de fevereiro de 1728.
Essa carta de sesmaria talvez seja o primeiro documento que se refere aos sertões de Piracicaba. Mas nesse mesmo ano, um segundo povoador, Manuel Lopes Castelo Branco, também conseguia uma sesmaria “de légua e meia de terras em quadra”, no caminho e sertão de Piracicaba. Creio que não pode haver dúvidas de que poucos anos depois do descobrimento das minas de Cuiabá Piracicaba já era povoada. Mas mesmo antes disso já eram conhecidos os seus sertões. Em 1693, um certo Pedro de Morais Cavalcanti requereu uma sesmaria em Piracicaba, abrangendo “uma e outra banda do rio, ficando-lhe o salto no meio”. Alegava o peticionário que iria povoá-la com toda a sua família.
Cessada a corrida de ouro de Cuiabá, em 1765, quando foi aberto caminho por terra que atravessava o rio Piracicaba exatamente no local onde seria considerado o porto da cidade – logo abaixo das corredeiras do salto -, foi nomeado governador da capitania dom Luiz Antônio de Souza Mourão. Foi ele quem mandou Antônio Corrêa Barbosa para a confluência do Piracicaba com o Tietê. A intenção era criar povoações nas margens do Tietê. A localização de Piracicaba, no entanto, foi modificada, setenta quilômetros rio Piracicaba acima – pelo seu “terreno alegre, fértil, cheio de salsaparilha, excelente para todo o gênero de cultura”.
Antônio Corrêa Barbosa, com ordem expressa de tratar os moradores antigos e os que se estabelecessem depois “com toda a suavidade e sem vexação” , por provisão de 24 de julho de 1766 ganhou o cargo de diretor e povoado r de Piracicaba. Mas, contrariando as ordens oficiais, provocou muitas encrencas, inimizando-se até com o primeiro pároco, vindo para Piracicaba três anos depois de sua fundação. Deu cumprimento, porém, às ordens quanto à fundação oficial, o que aconteceu no dia 1º de agosto de 1767, localizado o povoado à margem direita do rio.
Dezessete anos depois, em 1784, no entanto, a povoação foi mudada para a margem esquerda do rio. No dia 31 de julho daquele ano, após os ofícios religiosos, assistidos por autoridades e moradores, foi demarcado o pátio para a igreja matriz e duas ruas direitas, com “plano suficiente para edificarem suas moradas não só os atuais habitadores, mas ainda muitos vindouros”.
Resumo oficial
Num pequeno resumo da fundação oficial de Piracicaba fornecido pelo Departamento de Arquivo do Estado (publicado pelo Diário de Piracicaba de 24.04.1956), a história é contada assim:
“D. Luiz de Souza Mourão, morgado de Mateus, capitão-general de São Paulo, mandou lançar em Itu um bando de 17 de novembro de 1766, convidando as pessoas que quisessem, para fundar uma povoação na paragem denominada Piracicaba, território de Itu, tendo sido nomeado povoador Antônio Correia Barbosa. A povoação foi fundada em 1º de agosto de 1767.
“Em 24 de julho de 1770, foi expedida a provisão para se levantar a capela sob a invocação de Nossa Senhora dos Prazeres. Tornou-se Paróquia em 1774, tendo sido seu primeiro pároco, padre João Manuel da Silva, tomado posse em 21 de junho do mesmo ano. Por ordem de 7 de julho de 1784, do sucessor de Q. Luiz, D. Francisco da Cunha Meneses, a povoação de Piracicaba, em 31 de julho do mesmo ano, foi mudada da margem direita para a margem esquerda, do rio Piracicaba, mas sob a invocação de Santo Antônio, em vez de Nossa Senhora dos Prazeres, como havia determinado o antigo capitão-general.
“Quando a freguezia de Araritaguaba foi elevada à Vila, em 1797, uma parte do território de Piracicaba ficou pertencendo a Itu e outra a Porto Feliz. Os seus habitantes requereram, em 31 de outubro de 1816, sua elevação à Vila, com o nome de Vila Joanina em homenagem a D. João VI. Essa aspiração só foi atendida pelo governo em 31 de outubro de 1821, tendo sido dado o nome não de Vila Joanina, porém de Vila Nova da Constituição, em homenagem à adesão do Brasil ao regime constitucionalista.
Foi elevada à cidade em 1856 por representação de seus cidadãos com o mesmo nome. “Só voltou a ter seu primitivo nome pela Lei nº 21 de 24 de abril de 1856”.